segunda-feira, 9 de julho de 2012

Ciência & Religião ou Ciência X Religião?


 
BÓSON DE HIGGS: QUAL A RELAÇÃO ENTRE CIÊNCIA E RELIGIÃO?

José Aristides da Silva Gamito*

No início deste mês, julho de 2012, foi anunciado um importante passo da ciência: A descoberta de uma partícula que pode ser a tão procurada Bóson de Higgs. Esta partícula também chamada de “partícula de Deus” possui a propriedade de permitir que todas as outras partículas tenham massas diferentes.
Muitas pessoas reagiram negativamente a esta descoberta da ciência. Ainda existe aquela velha dificuldade de aceitar a ciência. Como se a ciência fosse uma concorrente da religião. Muitos se fecham ao esforço da ciência em conhecer a natureza. Muitos religiosos pensam que o conhecimento só da Bíblia basta. Como poderia ter resposta para um problema que nem existia?
A teoria de Higgs é um assunto da física moderna. A Bíblia tem sua redação final no início do século II da era cristã. Naquela época nem se cogitava sobre este assunto.  Definitivamente, a Bíblia não tem resposta para tudo. Ciência é ciência, religião é religião. Não precisa haver rivalidade. Cada área do conhecimento deve delimitar seu papel. A Bíblia não pode ter respostas para perguntas que não eram feitas na época em que foi escrita. Bíblia não é um livro de ciências. E a teoria de Higgs é um assunto complexo para ser simplificado assim!
O germe do fundamentalismo é a consideração do texto bíblico literalmente como palavras de Deus. A Bíblia não é um livro mágico, se quisermos defendê-la sensatamente temos de admitir seus limites. E isso não descaracteriza Deus! Não podemos confundir Deus com Bíblia! A Bíblia tem de ser lida com critérios e sem perder de vista o lugar, a época e a cultura em que foi escrita! Agora Deus é Deus!
A Bíblia não é a boca de Deus. É a boca de homens e mulheres que contaram suas experiências de fé. Se a gente colocar cada palavra da Bíblia na conta de Deus, teremos uma imagem muito obscurecida de Deus e difícil de defender! Deus é Deus! Ele é YHWH, no sentido bíblico. Ou seja, inefável.
Por outro lado, a ciência não tem como objetivo provar a não-existência de Deus. A ciência simplesmente procura entender o funcionamento da natureza. Por que a religião tem de desqualificar tanto a ciência assim? Não podemos ignorar o esforço dos cientistas. Ignorar a contribuição da ciência é voltar à pré-história. É muito precipitada essa mania de achar que todo cientista é ateu. O erro da religião é encerrar uma discussão séria e complexa com poucas palavras ou simplesmente usando a palavra “Deus”.

*Bacharel e licenciado em filosofia e pós-graduado em Docência do Ensino Básico e do Superior

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Vida e mortalidade:


 
                  VIVER É TÃO BREVE     

José Aristides da Silva Gamito

Poema para refletir no dia que morre alguém


Como posso saber a exata dimensão do que é viver?
Há dias tão doces quanto ouvir uma canção em espanhol,
Há dias tão penosos que contamos as horas para tudo acabar.
Muita gente acorda feliz e anoitece com uma tragédia em sua história.

Para tudo mudar? Bastam segundos.
Tudo é devir! Tudo é incerteza!
Vivemos de apostas:
O amanhã é uma possibilidade!

O que vale tanta arrogância e tanta misantropia?
Apenas para deixar uma detestável biografia?
Cada dia nós escrevemos um epitáfio!
Candidatamo-nos a uma lápide!

Para tudo mudar? Bastam segundos.
Tudo é devir! Tudo é incerteza!
Vivemos de apostas:
O amanhã é uma possibilidade!

Morramos com mais dignidade e vivamos um dia mais humano,
Mas tudo sem prever, sem precisar sentir a desgraça como prenúncio
                         Para depois se descobrir mortal, efêmero, capaz de falhas.
Viver é tão breve e a nossa esperança é infinita!

Para tudo mudar? Bastam segundos.
Tudo é devir! Tudo é incerteza!
Vivemos de apostas:
O amanhã é uma possibilidade!

Então, apostemos em mais um dia
E façamos dele o mais belo, o mais coerente, o mais ativo!
Enquanto vivemos, façamos bem feito nosso último dia.
Pois, esta é nossa condição! Ou, talvez prefira viver como se não fosse!


Conceição de Ipanema, 20 de junho de 2012

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Aversão à política



POLITICOFOBIA: EM TEMPOS DE ELEIÇÕES A NÁUSEA DA SOCIEDADE AUMENTA

José Aristides da Silva Gamito*

Os escândalos de Brasília, propinas, mensalões e todo tipo de desmando político pelo país afora aumenta a politicofobia nos cidadãos. Em períodos de eleições, o clima esquenta e a rejeição à figura do político aumenta. Em pequenas cidades marcadas Por aquela disputa acirrada e, muitas vezes, bipartidária, a convivência fica bastante afetada. Será de onde vem tanta sede pelo poder? Em muitas cidades em período de campanha eleitoral, faz-se muita fofoca e pouca política.
Já se tornou corriqueiro no linguajar popular “este ano tem política!”. Ano de eleições tornou-se sinônimo de época de política. Mas será que não se faz política nos outros anos? O cidadão já decorou os discursos de campanha. Esses discursos são marcados por muita promessa e não têm relação com as atribuições dos cargos políticos pretendidos. E muita a gente acredita! Apesar de muita politicofobia, parece que muita gente ainda não perdeu a esperança e sempre acredita no surgimento de um bom político.
Se nós aceitarmos a ideia de que os políticos são todos iguais, aí vamos entregar a luta de vez. A instalação da politicofobia na sociedade se deu justamente pelo pouco envolvimento nosso no meio público. Primeiramente, muita gente através do comodismo e da conivência acabou contribuindo para o aumento da corrupção política. Depois, precisamos analisar se estamos mesmo preparados para uma política dentro dos moldes de um Estado democrático e laico. Já vi pessoas consideradas boas cedendo a pequenos atos de corrupção. Precisamos aprender a enxergar o espaço público como verdadeiramente público.
Enquanto, procuramos manter a esperança no aperfeiçoamento da democracia, vamos suportando a náusea das campanhas eleitorais, das besteiras ditas pelos analfabetos políticos. A solução é não esperar pela mudança dos outros, comecemos por nós mesmos. Se não existia ninguém honesto, vou ser o primeiro, então! Se cada um assumir sua parcela de responsabilidade social, teremos uma política sadia.

*Bacharel e licenciado em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Corpus Christi e Filosofia


tapete corpus christi Modelos de tapetes de Corpus Christi 
PRINCÍPIOS PARA UMA ÉTICA DO CORPO: A RELAÇÃO ENTRE DOR E PRAZER

José Aristides da Silva Gamito*

A tradição católica de celebrar a festa de Corpus Christi se fundamenta na adoração da santidade do corpo de Jesus. Do ponto de vista da filosofia, o que poderíamos refletir sobre o valor e a dignidade do corpo?  Creio que é possível fundamentar uma Ética do Corpo. A racionalidade permite a percepção do próprio corpo e da necessidade de preservá-lo, conferindo-lhe valores como a inviolabilidade.
Toda pessoa humana tem direito à vida e o conceito de pessoa está intimamente ligado ao de corpo. A pessoa humana é corpo humano. Portanto, pretendemos fundamentar esta Ética do Corpo sobre os princípios da dor e do prazer.
O primeiro princípio é o “Não matarás”, ou seja “Não atentarás contra a integridade física do outro”. A violência é um ato de desrespeito do corpo porque causar dor a alguém é covardia, pois aquilo que não queremos que os outros nos façam, por coerência, não devemos fazer a eles. Ferir incomoda, degrada, rouba a paz do outro.
O outro princípio é o prazer. Assim como não há vida sem dor também não há vida sem prazer. A relação entre dor e prazer é decisiva para a Ética do Corpo. Todas as pessoas buscam a felicidade, a paz. Portanto, fogem da dor e buscam o prazer. Mas existe uma disciplina para esta relação: Não podemos, por exemplo, obter nosso prazer em cima da dor alheia. Por consequência, a Ética do Corpo não admite egoísmo. Cuidar de si não é exclusivamente para si mesmo, mas para se definir como pessoa aberta ao diálogo e à relação interpessoal.
Por outro lado, o altruísmo nos faz suportar a dor para assegurar o prazer alheio. Os atos de solidariedade extrema exemplificam isso. Em todos os casos, respeitar a vida, a pessoa humana é respeitar o corpo. A violência urbana e rural, o narcotráfico, tráfico de pessoas, trabalho escravo, padronização da beleza, promiscuidade, tudo isso é exemplo de desrespeito à Ética do Corpo.
Vivemos em uma sociedade com uma conturbada relação com o corpo. A violência destrói gratuitamente pessoas, os padrões de beleza escravizam tantos corpos e o próprio corpo se torna mercadoria. Então, é o momento propício de refletir sobre aquilo que é o ser humano, seu corpo. Acima de tudo conclamando a todos pelo respeito daquilo que nos é mais sagrado. Acredito que a tradição de Corpus Christi reflete no campo da cultura e da ética nos alertando sobre o significado do corpo humano.

*Bacharel e licenciado em filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.

sábado, 2 de junho de 2012

Poesia VI:


 
INDIGNA-ME SER MORTAL

José Aristides da Silva Gamito

Indigna-me suportar a mortalidade,
Aceitar que não sou eterno,
Que todos os lindos dias esvanecerão.
Essa condição me condena a construir sempre,
Quando se realizará a profecia, a utopia?

Sempre existe um caminho novo,
Uns iniciam e outros terminam,
Sem continuidade, sempre há interrupções!
Para onde caminharemos cegamente assim?

Queria ter prazo para o meu epitáfio,
Queria ver reconhecida a minha poesia;
Decididamente não quero morrer nesta estação.
Quero tempo para ver em volta o que estou deixando!

E quando protesto, onde está a fé?
Se o amor se foi e o bebê africano morreu de fome;
Se a solidariedade desapareceu e não há mais irmãos;
E a razão? Não é mais ouvida por ninguém.

Enquanto isso, luto contra o tempo
 para deixar um bem, tomara que eu o faça!
Tomara que eu o faça!
E, enfim, morra justiçado!

Conceição de Ipanema, 02/06/2012

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Auto-retrato

Minha auto-caricatura.

domingo, 13 de maio de 2012

Dia das Mães: Um pouco de reflexão


A IMPORTÂNCIA DA MÃE NA ARTE DA HUMANIZAÇÃO DO HOMEM


José Aristides da Silva Gamito*

"Feliz Dias das Mães" na língua tupi.
Dentre todos os animais o ser humano ao nascer é o mais fraco. Ele precisa ser cercado de cuidados para aprender a se alimentar, caminhar, se defender. Para que tudo isso seja possível surge uma figura de suma importância: A mãe. Por isso, todos nós temos um apreço especial pelas mães. A mãe nos dá a vida e nos treina para que nos tornemos seres humanos.
O animal homem se torna humano através do cuidado e da educação que recebe de sua família. Os pais são responsáveis por este processo, mas sem dúvida a mãe tem um peso maior. A ligação entre filho e mãe é muito forte naturalmente e culturalmente.
Na história, percebemos a força que a maternidade tem ao constatarmos a existência de religiões que adoram deusas mães. A figura de deus como mãe é mais atraente do que pai. Nos monoteísmos, isso não aconteceu porque são tradições patriarcais. Mas percebemos esta necessidade de uma grande mãe na figura de Maria, por exemplo, no catolicismo. Mesmo as tradições cristãs que não têm um apreço por Maria, compensam o fato de outra forma: Dando mais ternura à figura de Deus.
Sigmund Freud mostrou profundidade desta relação entre mãe e filho através da descrição do complexo de Édipo. Na verdade, há uma intensa busca de proteção da mãe que chega até ser contraditória. Toda esta exaltação da figura materna está presente na literatura, na arte, nas religiões, na psicologia. Portanto, as relações entre mãe e filho são fundamentais para a formação do ser humano de modo afetivo e moral.
Além da poesia, cabe-nos no campo moral o respeito à maternidade. Em uma sociedade veloz e em constante mudança, as relações humanas se esfriam. É preciso redescobrir a importância dos laços familiares, da afetividade e do papel dos genitores como autoridade. Este enfraquecimento dos papéis sociais dentro da família contribuiu muito para indisciplina dos jovens.  Voltemos a valorizar e respeitar nossos pais!

*Bacharel e licenciado em filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.