PRINCÍPIOS PARA UMA ÉTICA DO CORPO: A RELAÇÃO ENTRE DOR E PRAZER
José Aristides da Silva Gamito*
A tradição católica de celebrar a festa de Corpus Christi se fundamenta na adoração da santidade do corpo de Jesus. Do ponto de vista da filosofia, o que poderíamos refletir sobre o valor e a dignidade do corpo? Creio que é possível fundamentar uma Ética do Corpo. A racionalidade permite a percepção do próprio corpo e da necessidade de preservá-lo, conferindo-lhe valores como a inviolabilidade.
Toda pessoa humana tem direito à vida e o conceito de pessoa está intimamente ligado ao de corpo. A pessoa humana é corpo humano. Portanto, pretendemos fundamentar esta Ética do Corpo sobre os princípios da dor e do prazer.
O primeiro princípio é o “Não matarás”, ou seja “Não atentarás contra a integridade física do outro”. A violência é um ato de desrespeito do corpo porque causar dor a alguém é covardia, pois aquilo que não queremos que os outros nos façam, por coerência, não devemos fazer a eles. Ferir incomoda, degrada, rouba a paz do outro.
O outro princípio é o prazer. Assim como não há vida sem dor também não há vida sem prazer. A relação entre dor e prazer é decisiva para a Ética do Corpo. Todas as pessoas buscam a felicidade, a paz. Portanto, fogem da dor e buscam o prazer. Mas existe uma disciplina para esta relação: Não podemos, por exemplo, obter nosso prazer em cima da dor alheia. Por consequência, a Ética do Corpo não admite egoísmo. Cuidar de si não é exclusivamente para si mesmo, mas para se definir como pessoa aberta ao diálogo e à relação interpessoal.
Por outro lado, o altruísmo nos faz suportar a dor para assegurar o prazer alheio. Os atos de solidariedade extrema exemplificam isso. Em todos os casos, respeitar a vida, a pessoa humana é respeitar o corpo. A violência urbana e rural, o narcotráfico, tráfico de pessoas, trabalho escravo, padronização da beleza, promiscuidade, tudo isso é exemplo de desrespeito à Ética do Corpo.
Vivemos em uma sociedade com uma conturbada relação com o corpo. A violência destrói gratuitamente pessoas, os padrões de beleza escravizam tantos corpos e o próprio corpo se torna mercadoria. Então, é o momento propício de refletir sobre aquilo que é o ser humano, seu corpo. Acima de tudo conclamando a todos pelo respeito daquilo que nos é mais sagrado. Acredito que a tradição de Corpus Christi reflete no campo da cultura e da ética nos alertando sobre o significado do corpo humano.
*Bacharel e licenciado em filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.
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