SEGUNDO TURNO: MOTIVAÇÕES RELIGIOSAS EM CAMPANHA ELEITORAL DENTRO DE UM ESTADO LAICO
José Aristides da Silva Gamito*
O segundo turno das Eleições 2010 à presidência do país ganhou um tom de polêmica. As campanhas eleitorais dos dois candidatos, Dilma Roussef (PT) e José Serra (PSDB), desviaram o foco dos planos de governo e reduziram o debate a questões religiosas. Essa postura representa um retrocesso na vida política brasileira. Os políticos se esqueceram de que o Brasil é um país laico e democrático. Os discursos dos candidatos parecem sair de uma época em que havia perseguição religiosa e impossibilidade de debater democraticamente questões éticas.
Quem acompanhou o horário eleitoral pôde observar o uso constante das expressões “respeito à vida”, “a favor da vida”, “dom da vida” e “família brasileira”. O apelo passou a ser dirigido à família. A linguagem ficou apelativa. Percebia-se claramente que a intenção era atacar supostas posturas ideológicas do adversário. Os demais direitos, deveres e melhorias que deveriam ser contemplados pelos planos de governo passaram para segundo plano.
Os dois candidatos abriram seus programas para a TV nesta campanha usando a palavra “Deus”. No fundo, o que transparece é a polêmica do aborto. Este é um assunto sério e que exige maturidade, mas foi posto na hora errada. A questão está sendo banalizada ao se tornar matéria de chantagem “eleitoreira” para o segundo turno. Com isso, certamente os dois candidatos perderão votos significativos.
Desde a campanha para o primeiro turno, já havia boatos a respeito das posições morais dos candidatos. Havia na internet, católicos e evangélicos, fazendo campanhas, ora para um, ora para outro, baseadas em princípios morais e religiosos. Aliás, no Brasil política e religião voltaram a andar juntas. Existem deputados que declaram que estão na política para defender a bandeira dos evangélicos ou a bandeira dos católicos.
Quando se trata de uma campanha eleitoral dentro de um país laico e democrático, era de se esperar também planos de governos apresentados de maneira limpa, sem agressividade, sem apelar à fé ou à consciência das pessoas. O segundo turno deveria ser aproveitado para esclarecer melhor os programas de governo para que os eleitores tivessem oportunidade de avaliar bem e tomar decisões livres de pressões moralistas.
*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.
Cf. Jornal Diário de Manhuaçu, 16 de outubro de 2010. Site: Diário de Manhuaçu.
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