A DEMOCRACIA E AS MULHERES NO PODER
José Aristides da Silva Gamito*
A eleição da primeira presidente do Brasil nos sugere uma conversa sobre as mulheres e o poder. Segundo o relatório da ONU intitulado The Word’s Women 2010, as mulheres ocupam 10% dos cargos máximos de direção de governo: Chefia de governo e chefia de Estado. A participação em parlamentos nacionais é de 17%. A abertura para a participação feminina na política avança de um modo muito lento, mas aos poucos algumas transformações estão ocorrendo. Há alguns anos seria impensável no Brasil um presidente índio, negro ou mulher. O direito de voto da mulher só foi reconhecido no país na década de 30. As recentes candidaturas de Heloísa Helena, Marina Silva e Dilma Rousseff nos levam a perceber uma mudança na mentalidade brasileira. O direito de participação reconhecido democraticamente e a confiança na capacidade da mulher governar.
Esse desafio de aceitação enfrentado pelas mulheres fez parte de longos períodos da história ocidental. Somente a partir do século XIX, que o movimento feminista e a sugestão de antigos matriarcados na pré-história feriram o orgulho dos homens, pois, até então se pensava que a situação da mulher sempre foi de submissão. Isso era visto como uma condição natural. E o que se chamou de antropocentrismo foi na verdade um androcentrismo, ou seja, uma “ditadura cultural do macho”.
As antigas culturas adoravam deusas e honravam heroínas. A principal responsável pela masculinização do poder no ocidente parece ter sido a civilização judaico-cristã. Alguns estudos chegaram até demonstrar que o Deus bíblico originalmente era cultuado como uma deusa pelas antigas culturas do Oriente Médio. O ponto de partida parece ser esta visão de um Deus masculino. A máxima representação do poder tornou-se masculina. Portanto, se o poder político era pensado como de direito divino, somente homens poderiam representá-lo legitimamente. Essa ideia pode ser observada no impedimento de mulheres serem sacerdotisas no cristianismo. Em síntese, uma cadeia de percepções e raciocínios deixou de enxergar a igualdade de direito da mulher.
Para a nossa época parece sem sentido discutir o espaço da mulher na democracia. Em se tratando de teoria, e das atitudes de parte da sociedade, não haveria necessidade mesmo! Porém, ainda na cabeça de muitos homens e, também de mulheres, o feminino é inferior. Se não fosse assim, não haveria necessidade de uma lei como a Lei Maria da Penha no alvorecer do século XXI!
A eleição de Dilma é um fato histórico importante sem dúvidas. A sociedade brasileira não pode é fazer deste feito mais um erro em relação à mulher. O próximo governo que se espera é de continuidade, mas tem de ser um governo com cabeça feminina. E isso vai exigir um pouco de compreensão dos lulistas que veem a Dilma como Lula II.
*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.
Cf. Jornal Diário de Manhuaçu, 09 de novembro de 2010.
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