segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Opinião V:

OS IMPASSES DA EDUCAÇÃO EM NOSSO PAÍS


José Aristides da Silva Gamito*

            Depois de uma semana de comentários embaraçosos em torno do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), veio o momento oportuno para se falar sobre educação. Atualmente existem muitos ponteiros a serem acertados no relógio de nosso sistema educacional! Este ano foi marcado por debates na área da educação. Depois de 12 anos de existência, com os escândalos de 2009 e 2010, o Enem está prestes a perder sua credibilidade. Este ano os professores da rede pública estadual de Minas Gerais fizeram uma greve de 48 dias, os resultados obtidos ficaram aquém do desejado. Enquanto isso, os mesmos enfrentam desinteresses em sala de aula e uma crescente onda de violência nas escolas. Apesar do otimismo veiculado pelas propagandas do Estado, a educação não parece estar tão bem assim. Segundo os últimos resultados do PISA (Programa Internacional de Avaliação Comparada), o Brasil ocupa 53ª posição em matemática (entre 57 países) e a 48ª em leitura.
            Outro problema que está gerando discussão neste semestre é a negação por parte do Estado de Minas Gerais de incluir as disciplinas de Filosofia, Sociologia e Educação Religiosa no próximo concurso de professores. Quando as duas primeiras disciplinas citadas se tornaram obrigatórias no Ensino Médio, surgiu uma situação extremamente prejudicial à educação. Apenas 23% dos professores de filosofia e 12,3% de sociologia eram formados na área, segundo dados do governo federal.
            Em se tratando especificamente de filosofia, muitos estudantes acabam criando preconceitos em relação à disciplina porque o próprio professor a desvaloriza por desconhecê-la. As aulas se tornam fragmentadas e reduzidas a interpretações de textos aleatórios. Em nosso país existe um bom número de filósofos oriundos de seminários católicos. Porém, o Estado, por meio das superintendências de ensino, nega o espaço devido a esses. E, em seus lugares, estão lecionando filosofia pessoas sem qualificação na área apenas por questão de extensão de cargos. O sistema educacional continua preferindo prejudicar a qualidade da educação a abrir mão de uma questão meramente burocrática.
            O número de professores formados em sociologia é bem menor. Aliás, os filósofos e sociólogos se concentram mais no Ensino Superior. É um sinal claro de que o Ensino Médio tem pouco incentivo do Estado.
            A Educação Religiosa se encontra em uma situação mais complexa. Nem existe uma unificação de currículo, em muitas escolas continua sendo um instrumento de proselitismo. O professor não consegue tratar as religiões com igualdade, perde-se o senso acadêmico em razão de sua fé particular. Mais uma vez o ideal do Estado laico fica em desvantagem.
            Enquanto o nosso sistema educacional não reagir a esses impasses, muitos outros atrasos na educação virão se somar aos atuais. A esperança que nos resta é olhar para trás e ver que muita coisa, mesmo de um modo lento, já mudou!

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.
Cf. Jornal Diário   de Manhuaçu, 14 de novembro de 2010.

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