segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Opinião III:

O NOSSO JEITINHO BRASILEIRO DE CONCORRER


José Aristides da Silva Gamito*

            Existem algumas situações que nos levam necessariamente à reflexão. Refletir não é uma tarefa difícil para ninguém! Eu diria que é algo rotineiro. É muito fácil analisar e criticar as ações dos outros. Porém, o desafio que aparece diante de nós é a autocrítica. Quais os critérios que nos garantem a objetividade em nossas avaliações? Nós tendemos a ver aquilo que nos beneficia e aquilo que confirma nosso ponto de vista como verdade. Nesta discussão filosófica sobre conhecimento e verdade, não podemos nos esquecer que a nossa vontade, os nossos desejos, as nossas emoções, tudo participa de nossa decisão racional.
            As disputas partidárias, os confrontos entre diferentes religiões e, até mesmo, nossas diferenças de ideias do dia-a-dia nos levam a esse desafio. A ciência quis durante o auge do positivismo se construir como um julgamento impessoal, imparcial e objetivo. Mas todo mundo que parte para conhecer algo, sempre age motivado por determinadas intenções e interesses.
            O filósofo Nietzsche dizia que toda ação é “interessante e interesseira”. É claro que não podemos chegar ao cúmulo de pensar que tudo reside na base da troca! O capitalismo se baseia nisso. Mas quando observamos como os candidatos concorrem a uma eleição, como os membros e simpatizantes de um partido analisam os planos de governo, observamos o quanto é difícil ser justo e ficar isento de particularidades egoístas. É justamente essa habilidade que falta no nosso jeitinho brasileiro de pensar a democracia. Muitas pessoas veem isso diariamente acontecer nas prefeituras. Essas são instâncias mais vulneráveis à vingança e à perseguição político-partidária.
            A corrupção das bases é o fundamento da corrupção e dos maus hábitos da superestrutura. Muitas vezes, prefeitos, vereadores e pessoas influentes nas pequenas cidades subornam, usam a “camaradagem” para obter vantagens. E quando analisamos a mesma situação em uma macroestrutura como o país, ficamos assustados!
            Do mesmo modo, nossas convicções morais particularistas cedem constantemente lugar aos interesses da comunidade e da nação. Se você observar bem, perceberá que o Brasil tem uma carga moral e cristã muito rigorosa. Mas na prática não consegue reduzir a desigualdade social, não consegue praticar a justiça. Afinal, somos coniventes com o mal que acontece todo dia. Simplesmente porque não queremos nos opor, nos indignar. E acabamos fingindo que somos cidadãos, que somos cristãos, que somos irmãos. Na verdade o nosso jeitinho brasileiro de concorrer não nos deixar distinguir o pessoal do comunitário. E continuamos sendo coniventes com mal! Que o resultado dessas eleições possa nos indicar um caminho contrário. Tomara mesmo!

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.
Cf. Jornal Diário de Manhuaçu,  30 de outubro de 2010.

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