domingo, 27 de fevereiro de 2011

Filosofia e Condição Humana

A CRUELDADE DENTRO DA CONDIÇÃO HUMANA

José Aristides da Silva Gamito

Quando analisamos a história a partir de seu aspecto negativo não há como não concluir que o ser humano é cruel. Todos os animais praticam a violência como meio de adquirir alimento ou para se proteger. Ao contrário, o ser humano pode ter todos os bens necessários à sobrevivência mesmo assim é violento com seu semelhante. As relações cotidianas estão repletas de atitudes cruéis. Nas escolas há o bullying, nas universidades há os trotes, nos estádios o confronto das torcidas organizadas, na rua assaltos e acidentes automotivos por negligência. Em grande escala, há a desiguldade social que fere a dignidade de milhares de pessoas. A sociedade acaba sendo conivente com essas ondas de crueldade.
A solidariedade, o lado oposto, é muito tímida. As atitudes como a gentileza e o voluntariado são comportamentos restritos a poucas pessoas no mundo capitalista. Nem o cristianismo em toda a sua presunção de humanista não consegue romper com esses comportamentos indesejados. Aos fins de semana, nas igrejas, sentam-se lado a lado o opressor e o oprimido e os sermões sobre fraternidade não surtem efeito.
As grandes instituições políticas e religiosas da história se ergueram em cima da violência. As guerras, a Inquisição, o Holocausto e as formas extremas de execução de penas. O ser humano sente prazer em ver o outro sofrer. Prova disso eram os combates nos anfiteatros romanos. Escravos e cristãos eram expostos às feras. A plateia vibrava. Há resquícios disso hoje ainda nas competições de artes marciais quando vemos com satisfação nosso lutador preferido massacrar o oponente.
Aquela satisfação que alguém sente em punir o outro, chamada erroneamente de justiça, na verdade é o instinto da crueldade. A finalidade da justiça é restaurar e não destruir. A participação dos telespectadores na eliminação de participantes em realities shows demonstra esta crueldade em derrotar o outro. As nossas relações estão repletas desses exemplos.
Afinal, o homem é naturalmente cruel? Há algumas afirmações perigosas que podem justificar o mal. Se admitirmos esta condição o mal passa a ser justificado como natural. Algumas interpretações errôneas da seleção natural aplicadas à moral tendem a isso. O que podemos constatar é que o homem é instintivamente ambíguo: Pode distribuir flores ou empunhar armas. A tomada de consciência como sujeito dentro de uma cultura é o que fará a diferença. Pela educação o homem seleciona os instintos mais benéficos para a sua vida em sociedade. Não há como viver isolado e a condição para isso é a educação dos instintos para a cooperação e a solidariedade.
A crueldade dentro da condição humana não deve nos tirar a esperança. Ela nos alerta para fortalecermos a educação e os sistemas de justiça para que o homem possa aperfeiçoar a sua condição de solidário, de amável e de gentil. Hoje percebemos que esta cooperação garantirá a sobrevivência da espécie e do planeta como um todo. Cruel? Sim, mas também solidário!

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.
Cf.  http://www.diariodemanhuacu.com.br/

Política e Liberdade Civil


A LIBERDADE HUMANA E AS DUAS FACES DA DITADURA

José Aristides da Silva Gamito

A renúncia do ditador egípcio Hosni Mubarak nos leva a refletir sobre os limites da liberdade humana, partindo de um paradoxo.  Reclamamos dos abusos de poder, mas temos de pensar que a ditadura tem duas faces. Há a ditadura da minoria e da maioria. Todas as duas situações são problemáticas. A generalização parece ser a chave desta discussão. Há pessoas que usam o seu poder para colocar todos debaixo de sua visão de mundo; existem grupos e sociedades que não admitem variantes e nem singularidades dentro de seus quadros de valores.
A América Latina sofreu terríveis ditaduras no século passado. As ditaduras têm como pretexto a segurança nacional ou o bem comum. Por causa de uma suposta emergência, um partido toma o poder e derruba as leis, passando a governar sozinho. E tudo que seria provisório, fica sem data de encerramento. Geralmente, os ditadores são oportunistas. A atitude deles é racionalizada e justificada por um discurso de altos valores. Hitler, por exemplo, seduziu multidões.
Os regimes totalitários indubitavelmente são desastrosos para a liberdade e a dignidade da pessoa humana. Mas também é agressiva a ditadura da maioria. A televisão, o mundo da moda, sistemas religiosos, são instrumentos de homogeneização, têm como finalidade igualar comportamentos, sufocando assim a individualidade. Dentro das tradições religiosas, quando uma pessoa discorda de um princípio de fé ou destoa de um costume, ela sofre uma retaliação social. No fundo, a ideia que prevalece é a de que se todos acreditam assim desde épocas remotas porque agora alguém quer se comportar de modo diferente. O mais desastroso é quando esta autoridade remonta ao próprio Deus.
A pluralidade, a multiplicidade desafia muita gente. É muito mais fácil governar sem oposição, conviver com quem pensa igual. Os jovens de nossa época têm se mostrado muito intolerantes com a diversidade. Isso é péssimo sinal para os nossos tempos. A história ocidental tem sua trajetória marcada pela ditadura do Uno. As formas de governo eram monárquicas, predominância cristã de um só Deus, havia uma Igreja predominante, o saber buscava uma única verdade. O renascimento pôs em questão essa visão monótona da vida.
Nos tempos atuais, muitos sistemas de governo ainda resistem à democracia. É um comodismo estatal. Além disso, há a acusação de que os países democráticos são liberais demais. É prudente levar em conta esta última constatação. É claro, países como o Brasil precisam aplicar uma democracia aliada a uma boa educação, sem cidadania e consciência de direitos e deveres, tudo se torna uma anarquia. A sociedade precisa de referências sólidas. Mas nenhuma forma de ditadura é solução para os problemas. Na verdade, ela é uma saída incompetente e desesperada para alguma situação indesejada.

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.

Ética e Mídia


PIRATARIA E PLÁGIO: UMA CRISE DE CRIATIVIDADE E DE AUTONOMIA

José Aristides da Silva Gamito

Os recursos que a internet e a mídia em geral nos oferecem hoje ameaçam a propriedade intelectual. Esses meios possibilitam a produção legal e a reprodução ilegal de milhares de bens culturais. Os crimes de pirataria e de plágio se tornam cada vez mais comuns. A pirataria de CDs e DVDs com a qual deparamos cotidianamente em nossas cidades tem como sua fonte principal a internet. Assim como o plágio de trabalhos escolares e diversas pesquisas acadêmicas do ensino básico ao superior. Há professores que até já se acostumaram com essa situação e fazem vista grossa. Do mesmo modo que a população não se importa com a aquisição de mídia pirateada porque é mais barata e acessível a todos.
A pirataria de mídia em nosso país representa uma solução ilegal para um bem que tem preço muito acima do poder aquisitivo da população. Como a tecnologia conquistou e fascinou todo mundo, ninguém se contenta mais em ficar fora desta novidade. Nós sabemos muito bem que comer, beber, ter saúde e se vestir dignamente são direitos básicos. Alguns programas do governo como bolsa-família, bolsa-escola tentaram assegurar o direito de estudar e de se preparar para um futuro mais digno. Muitas famílias carentes usam o dinheiro desses benefícios para adquirir aparelhos de som, de DVD e outras mídias. O mais desafiante é que isso acontece em detrimento de outras necessidades básicas da família. Isso é prova que a tecnologia seduz demais.
Como diz a canção dos Titãs “A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte...”. A nossa sociedade tem fome e sede de bens muito além da comida e da bebida. O preço de um CD, de um DVD e de um livro é muito alto para uma sociedade tão carente. Nesse sentido a coibição da pirataria se torna um desafio ético.
Por outro lado, o plágio que se torna tão corriqueiro na vida das pessoas, a pirataria insensata e desnecessária parecem adormecer o nosso cérebro e destruir toda a nossa autonomia e criatividade. Esse comodismo vem de muito longe. A calculadora resolve nossas contas. A internet dá as respostas prontas para o que precisamos. Os alunos copiam seus trabalhos da internet sem o menor esforço, nem mesmo organizam o que colhem na internet. Muitos profissionais que agora nos prestam serviços passaram o tempo todo da faculdade encomendando e copiando trabalhos e pesquisas.
Assim, temos uma educação “pirata”. Ninguém mais pode ser reprovado, ninguém mais é obrigado a pensar. Tudo se faz através das aparências. O “parecer ser” se torna mais importante do que o “ser”. É o famoso mundo do Ctrl + V e do Ctrl + C, ou seja, copiar e colar. Não importa se sabemos ou não o que estamos fazendo. Ninguém percebe implicações morais nisso. Para quem acompanha nossas reflexões, deixo o meu e-mail para que possa deixar seu comentário: joaristides@bol.com.br.

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.

Filosofia e Vida Moral



O SOFRIMENTO COMO CONDIÇÃO HUMANA

José Aristides da Silva Gamito

A felicidade é um direito de todo ser humano, mas, apesar de haver muitos bens e recursos que podem nos trazer bem-estar, o sofrimento faz parte da condição humana. Não há como negá-lo e nem evitá-lo de modo absoluto. Tanto as ideologias que negam quanto as que justificam o sofrimento são igualmente perigosas. O cristianismo medieval justificava o sofrimento como punição pela condição de ser humano, de possuir um corpo. É uma visão muito negativa da vida. Este modo de enxergar o sofrimento ainda é muito pregado.
Na busca por uma melhor forma de conviver com o sofrimento, religiões e filosofias foram pensadas.  Vamos comentar as propostas de três correntes filosóficas: O epicurismo, o estoicismo e o cinismo. Epicuro, filósofo do século IV, acreditava que o bem maior é a busca de prazeres moderados. Deve-se procurar a tranquilidade e libertar-se do medo. O conhecimento do funcionamento do mundo ajuda a conviver com os males. Dosando-se os desejos, diminui-se o sofrimento. É uma postura um tanto budista!
Os estóicos entendiam que somos peças de uma grande ordem. Por isso, devemos nos adequar às leis da natureza. Muitos sofrimentos resultam de atitudes contrárias à natureza. Se nos adequarmos às leis naturais, evitamos o sofrimento que pode ser evitado. Cuidando bem da saúde, construindo casas fora áreas de risco, convivendo bem, evitamos muitos males. E diante das tragédias inevitáveis, devemos manter a serenidade. Portanto, o homem ideal para o estoicismo não se deixa prender pelos bens externos, utiliza-os com sabedoria. Esta posição foi iniciada por Zenão de Cítio.
Uma perspectiva antiga que entra em contraposição ao consumismo contemporâneo é o cinismo. Os filósofos cínicos pregavam e viviam uma vida voltada para a natureza, desapegados dos bens supérfluos. Nesse sentido, a felicidade provinha da virtude moral do sábio. Ele bastava a si mesmo. Dos bens, ele só queria o necessário para a vida.
Essas propostas podem orientar também o homem contemporâneo. Estamos sendo obrigados a aprender a viver segundo a natureza por causa do aquecimento global e suas conseqüências. Já chegamos à conclusão de que o consumo exagerado nos leva a problemas de saúde e financeiros. Do mesmo modo, aprendemos que a liberdade precisa respeitar uma ordem. Se todos forem extremamente livres, teremos uma sociedade de lobos que devoraram uns aos outros.
Se assim vivermos, evitaremos muitos males. E quanto aos sofrimentos inevitáveis, devemos ter a serenidade, uma elegância moral que nos leve a enfrentar bens e males de modo sereno, sem desespero e sem ilusões. O pessimismo e o otimismo são os dois extremos diante dos fatos do nosso dia-a-dia. Viver segundo a natureza e com sabedoria é aceitar as duas possibilidades: felicidade e tragédia. De modo bem popular: Lembre-se de que “o sorriso mora perto das lágrimas”. Nenhum deles é absoluto.


*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.

Religião e Pensamento:



POR QUE DEUS SE SILENCIA DIANTE DAS CATÁSTROFES?

José Aristides da Silva Gamito

            Todos os anos durante os meses chuvosos nós assistimos ou sofremos com catástrofes naturais. Esta semana as cidades da Região Serrana do Rio de Janeiro, Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis, sofreram perdas humanas e de bens com as enxurradas. Justamente no mês em que completa um ano das tragédias em Angra Reis e no Haiti. As pessoas religiosas dão muitas explicações para os acontecimentos trágicos da vida humana, mas quando é uma tragédia de grandes proporções fica difícil dar respostas.
            O Holocauto Nazista, por exemplo, foi um desafio enorme para a fé. Por que um Deus tão bom permite uma crueldade tão grande assim? Primeiramente, precisamos distinguir a ação humana da ação da natureza. Sobre essas duas podemos fazer muitas análises, mas para a decepção de muitas pessoas de fé, sobre o silêncio de Deus quase nada podemos dizer. O cidadão do século XXI terá de aprender muito sobre os efeitos da ação humana sobre a natureza. Há catástrofes que fazem parte da ação natural sem interferência humana, mas muitas outras que sofremos já são resultados da ação humana.
            O grande perigo é atribuir a autoria dessas catástrofes a Deus. E a literatura bíblica dá muito respaldo para isso acontecer. O povo hebreu do Antigo Testamento entendia as catástrofes como punição de Deus. Cada tempo tem sua compreensão dos fatos. Mas atualmente precisamos de discernimento, de capacidade de reconhecer os erros e corrigi-los e quanto às falhas espontâneas da natureza não temos como controlar diretamente, mas podemos usar a ciência e a tecnologia para a prevenção, evitando assim que os efeitos não sejam tão devastadores.
Tragédias como a do Haiti fogem ao controle do homem, mas as tragédias urbanas decorrentes das chuvas podem ser evitadas através do planejamento das cidades e da conscientização da população quanto às moradias. É claro, o Estado precisa dar condições para que as pessoas sem opção de moradias não sejam obrigadas a procurarem áreas de risco. Falta bastante atenção nessa área, este fato pode ser notado em muitas cidades da nossa região.
Agora quanto a Deus, a única afirmação que podemos dizer é que se ele é bom não pode ser o autor do mal, caso contrário, você estaria atribuindo a imperfeição a Deus. E nesse caso, não são válidos aqueles argumentos corriqueiros como “Deus está punindo os pecados”, “isso é um exemplo para os pecadores”. Na interpretação dos textos da Bíblia, geralmente se confunde justiça com misericórdia. Se Deus é misericordioso, não se pode aplicar-lhe uma justiça à moda humana. Aliás, nem justiça poderia se atribuir às tragédias porque muitos inocentes morrem lá. Por fim, as religiões precisam reavaliar muitos conceitos para não terem uma visão distorcida da realidade e que não é mais tolerável em nosso tempo.


*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.

Educação:


VOLTA ÀS AULAS E O PAPEL DA FAMÍLIA NA VIDA ESCOLAR DOS FILHOS

José Aristides da Silva Gamito

A volta às aulas para muitos pais significa um alívio. As crianças vão passar menos tempo com eles e agora não terão que aturar a indisciplina dos filhos, ter cuidado redobrado com eles dentro de casa. Uma parcela significativa de pais apenas matricula e renova as matrículas dos filhos, mas não acompanha a vida deles na escola durante o ano. A família transfere a responsabilidade para os professores. Outros reaparecem na escola para tirarem satisfação sobre o fracasso escolar dos filhos.
A educação, em nosso país, fica muito a desejar em qualidade justamente por causa desta parceria que não existe. A presença do Estado com investimento e valorização dos educadores é pequena. A família exime-se de sua responsabilidade. A escola sozinha com poucos recursos carrega sobre si o peso da responsabilidade de formar cidadãos e pessoas aptas para o mercado de trabalho. O artigo 2º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação nacional diz que a educação é “dever da família e do Estado”. Não é uma transferência de responsabilidades, é uma parceria.
Os educadores quase sempre reclamam da ausência de pais em reuniões da escola. É preciso desenvolver um mecanismo legal que obrigue os pais a cumprirem este dever de acompanhar a educação dos filhos. O Estado falha também em não cobrar a parceria da família de modo eficaz.
A educação perde em qualidade por causa da negligência dos seus principais responsáveis. A carreira do professor é organizada de forma que não lhe dá estabilidade e as devidas condições e direitos de cuidar da vida pessoal, familiar e da saúde. Em Minas Gerais, a famosa Lei 100 deu uma falsa estabilidade ao educador. Há muitos mecanismos ambíguos do Estado. Eles parecem investimento na Educação, mas ainda são compras sutis de votos. Nas últimas eleições para governador em nosso estado, a Lei 100 representou uma negociação de voto. Alguns deputados usaram esses argumentos para aliciar votos de professores, queriam recuperar o desprestígio que a greve de 2010 trouxe para eles.
A educação passa a ser negociada com troca de benefícios, cumprimento de tabelas e de burocracias. Outro problema desafiante é que as normas de contratação de professores, sistemas de avaliação dos alunos, não levam em conta a qualificação e o rendimento. Professores sem formação na área específica tendem a prejudicar a aprendizagem em sala de aula. Por exemplo, eu assisti à contratação de um professor de geografia para lecionar filosofia, em cuja listagem de classificação havia dois filósofos. São vários fatores que ocasionam a educação de baixa qualidade. Há gerações inteiras de alunos chegando ao fim do Ensino Médio domínio da leitura e da escrita. Enquanto, não houver um empenho maior na organização do nosso sistema educacional, muita coisa continuará a desejar.

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.

Televisão:

AS IMPLICAÇÕES SOCIAIS, MORAIS E PSÍQUICAS DOS REALITIES SHOWS

José Aristides da Silva Gamito

Nos últimos anos, os realities shows se tornaram a sensação da TV brasileira. Com a estreia do BBB 11, não poderíamos deixar de comentar as implicações sociais, morais e psíquicas desse tipo de experiência. Esses programas se aproveitam de uma fragilidade humana típica do mundo capitalista, a busca do dinheiro e do sucesso. Os participantes motivados pela confiança de que terão fama, de que terão oportunidade de profissões lucrativas, eles se submetem a comportamentos desumanos.
Dentro de um reality show, a pessoa se torna uma “cobaia” da curiosidade do público. Quem assiste quer comentar e analisar a personalidade e as atitudes de todo participante. E no fundo, ao eliminar alguém do programa, o telespectador exerce uma crueldade legalizada e que lhe dá satisfação.
Do ponto de vista social, os participantes e os telespectadores exercem um jogo de poder, os primeiros se sentem celebridades que estão no foco de atenção de milhões de pessoas e os outros se sentem por cima pelo poder que têm de eliminar ou preservar o participante. Um Big Brother Brasil é visto como um instrumento de ascensão social. Porém, tudo isso a um custo muito alto, por meio de uma condição degradante.
Os psicólogos Marco Antônio Tomasso e Mariá Giulise, em matéria na edição digital da Folha de São Paulo, afirmaram que os riscos emocionais e profissionais de participar de um reality show são altos. Um participante pode elevar seu nível de ansiedade, pode agravar quadros psicológicos preexistentes como agressividade e depressão, pode desenvolver manias de perseguição e crise de identidade. Muitos participantes acreditam que ampliarão seu espaço no mercado de trabalho, mas o resultado pode ser o contrário. Ele pode ter uma imagem negativa. A exposição excessiva pode fechar muitas portas.
Mesmo diante de tanta humilhação, provas de resistência que prejudicam a saúde, baixarias em rede nacional, a audiência dos BBBs é sempre alta. A relação entre público e participantes nos revela algumas características da sociedade. A curiosidade a respeito da vida alheia é grande, o desejo cruel de poder ter a vida dos outros nas mãos é assustador. Nos participantes vemos uma vontade de se exibir, de ter poder, de ter fama e dinheiro. Enfim, a TV descobriu como tornar as pessoas escravas sem que elas sintam aversão a isso, aliás, elas sentem até prazer porque existe uma isca, uma recompensa por trás de tudo isso. Mas para alguns o preço disso não vale a pena!


*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.

Língua Portuguesa


ENSAIO SOBRE UMA REFORMA ORTOGRÁFICA GERAL
 E DEFINITIVA DO PORTUGUÊS

José Aristides da Silva Gamito*

Ampliando a discussão do artigo “O futuro da Língua Portuguesa” postado no blog Pascoal Online, em 9 de fevereiro de 2011, torno público um estudo que realizei há muito tempo sobre a Reforma Ortográfica da Língua Portuguesa. É uma proposta de adotar uma ortografia fonética que reduziria bastante as dificuldades que aparecem durante o processo de alfabetização. Os puristas não aceitariam uma reforma muito artificial, por isso, elaborei um modelo com base na tradição fonética e ortográfica das línguas neolatinas e do próprio latim. A língua Esperanto possui uma ortografia totalmente fonética e já está comprovado que ela é um das línguas mais fáceis de ser aprendida por causa disso. Já houve propostas oficiais de uma reforma assim tanto para o português quanto para o espanhol.
1.    O til permaneceria cobrindo todos os sons nasais, inclusive das desinências da terceiras pessoas das conjugações verbais. Som (sõ), fizeram (fizerão).
2.    O Q seria abolido. O C seria adotado para representar todos os sons duros. No latim clássico, ele representava este som. Casa (casa), quero (cero). As formas como quarenta, onde soa o u do qu, seriam também substituídas pelo C, portanto, cuarenta. Como faz o espanhol, em muitos casos. O K e o Q seriam abolidos por serem raros dentro da tradição latina.
3.    A letra S substituiria todas as sibilantes como SS (pássaro), C (cena), SC (nascer), Ç (cabeça), X (próximo, sexta), Z (rapaz). Escreveríamos pásaro, sena, cabesa, prósimo, sesta. O espanhol possui um procedimento semelhante com o S.
4.    O Z assumiria todos os sons de z como o do S (rosa), X (êxito). Grafaríamos assim: roza e êzito.
5.    O G seria sempre duro, sem necessidade do uso u diante de E e I. Gama (gama), guerra (gerra).
6.    O J representaria os sons dele mesmo e do G diante de E e I, como em gesto (jesto), gênero (jênero).
7.    O H sem som seria eliminado. Como já acontece por força da tradição com a palavra erva, em latim escreve-se herba. O h só existe em português por razões etimológicas. Durante a história, variou-se muito o uso desta letra.
8.    O H representaria o som do R e RR guturais e o R representaria o som rolado. Já que no latim clássico e no grego o h já teve som aspirado. Rapaz (hapas), caro (caro). Suprimir-se-ia o R final dos infinitivos.
9.    O X representaria os sons de ch(chapéu), x(xarope). Porém, o som do x em exemplo (seria ezemplo) e em sexo (seria secso).
10.    O LH seria trocado pela duplicação do ll como no espanhol. Galho/gallo.
11.    O NH por uniformidade também se duplicaria, nn. Galinha/galinna.
12.    O L final com som de U seria trocado pelo seu correspondente. Teríamos cal (cau), animal (mau). Isso de fato já aconteceu com a palavra mau que vem do latim malu.
13.    Os acentos gráficos não seriam abolidos porque representam uma vantagem para a leitura. Apenas a regra seria uniforme: Acentuar-se-iam todas as proparoxítonas e todas as oxítonas e nenhuma paroxítona, porém, acentuar-se-iam os hiatos e monossílabos. A língua Guarani possui um modelo de acentuação gráfica semelhante.

Para uniformizar a ortografia e torná-la mais lógica, vários modelos são possíveis. Neste, eu tomei como referência exemplos de emprego das letras dentro do latim e das línguas neolatinas. A concessão mais radical que fiz foi usar o h no lugar do r gutural. Às vezes, se leva propostas como essa como comédia, mas seria uma solução radical para resolvermos o problema da ortografia. Um modelo mais exótico que esse seria muito mais difícil de ser aceito. As pessoas são muito apegadas ao costume. E encaram o novo com repugnância. Com tempo, realmente, tudo se encaixaria. A grafia da internet já nos ajuda a não estranhar tanto uma ortografia assim.
Encerro demonstrando como ficaria o artigo 1º da Declaração dos Direitos Humanos “Todos os seres umanos nasem livres e iguais dignidade e direitos. Dotados de razão e de consiensia, dev agi ûs para cõ os outros espírito de fraternidade” (“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”). É uma diferença aceitável.

*Filósofo e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.