O SOFRIMENTO COMO CONDIÇÃO HUMANA
José Aristides da Silva Gamito
A felicidade é um direito de todo ser humano, mas, apesar de haver muitos bens e recursos que podem nos trazer bem-estar, o sofrimento faz parte da condição humana. Não há como negá-lo e nem evitá-lo de modo absoluto. Tanto as ideologias que negam quanto as que justificam o sofrimento são igualmente perigosas. O cristianismo medieval justificava o sofrimento como punição pela condição de ser humano, de possuir um corpo. É uma visão muito negativa da vida. Este modo de enxergar o sofrimento ainda é muito pregado.
Na busca por uma melhor forma de conviver com o sofrimento, religiões e filosofias foram pensadas. Vamos comentar as propostas de três correntes filosóficas: O epicurismo, o estoicismo e o cinismo. Epicuro, filósofo do século IV, acreditava que o bem maior é a busca de prazeres moderados. Deve-se procurar a tranquilidade e libertar-se do medo. O conhecimento do funcionamento do mundo ajuda a conviver com os males. Dosando-se os desejos, diminui-se o sofrimento. É uma postura um tanto budista!
Os estóicos entendiam que somos peças de uma grande ordem. Por isso, devemos nos adequar às leis da natureza. Muitos sofrimentos resultam de atitudes contrárias à natureza. Se nos adequarmos às leis naturais, evitamos o sofrimento que pode ser evitado. Cuidando bem da saúde, construindo casas fora áreas de risco, convivendo bem, evitamos muitos males. E diante das tragédias inevitáveis, devemos manter a serenidade. Portanto, o homem ideal para o estoicismo não se deixa prender pelos bens externos, utiliza-os com sabedoria. Esta posição foi iniciada por Zenão de Cítio.
Uma perspectiva antiga que entra em contraposição ao consumismo contemporâneo é o cinismo. Os filósofos cínicos pregavam e viviam uma vida voltada para a natureza, desapegados dos bens supérfluos. Nesse sentido, a felicidade provinha da virtude moral do sábio. Ele bastava a si mesmo. Dos bens, ele só queria o necessário para a vida.
Essas propostas podem orientar também o homem contemporâneo. Estamos sendo obrigados a aprender a viver segundo a natureza por causa do aquecimento global e suas conseqüências. Já chegamos à conclusão de que o consumo exagerado nos leva a problemas de saúde e financeiros. Do mesmo modo, aprendemos que a liberdade precisa respeitar uma ordem. Se todos forem extremamente livres, teremos uma sociedade de lobos que devoraram uns aos outros.
Se assim vivermos, evitaremos muitos males. E quanto aos sofrimentos inevitáveis, devemos ter a serenidade, uma elegância moral que nos leve a enfrentar bens e males de modo sereno, sem desespero e sem ilusões. O pessimismo e o otimismo são os dois extremos diante dos fatos do nosso dia-a-dia. Viver segundo a natureza e com sabedoria é aceitar as duas possibilidades: felicidade e tragédia. De modo bem popular: Lembre-se de que “o sorriso mora perto das lágrimas”. Nenhum deles é absoluto.
*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.
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