domingo, 27 de fevereiro de 2011

Língua Portuguesa


ENSAIO SOBRE UMA REFORMA ORTOGRÁFICA GERAL
 E DEFINITIVA DO PORTUGUÊS

José Aristides da Silva Gamito*

Ampliando a discussão do artigo “O futuro da Língua Portuguesa” postado no blog Pascoal Online, em 9 de fevereiro de 2011, torno público um estudo que realizei há muito tempo sobre a Reforma Ortográfica da Língua Portuguesa. É uma proposta de adotar uma ortografia fonética que reduziria bastante as dificuldades que aparecem durante o processo de alfabetização. Os puristas não aceitariam uma reforma muito artificial, por isso, elaborei um modelo com base na tradição fonética e ortográfica das línguas neolatinas e do próprio latim. A língua Esperanto possui uma ortografia totalmente fonética e já está comprovado que ela é um das línguas mais fáceis de ser aprendida por causa disso. Já houve propostas oficiais de uma reforma assim tanto para o português quanto para o espanhol.
1.    O til permaneceria cobrindo todos os sons nasais, inclusive das desinências da terceiras pessoas das conjugações verbais. Som (sõ), fizeram (fizerão).
2.    O Q seria abolido. O C seria adotado para representar todos os sons duros. No latim clássico, ele representava este som. Casa (casa), quero (cero). As formas como quarenta, onde soa o u do qu, seriam também substituídas pelo C, portanto, cuarenta. Como faz o espanhol, em muitos casos. O K e o Q seriam abolidos por serem raros dentro da tradição latina.
3.    A letra S substituiria todas as sibilantes como SS (pássaro), C (cena), SC (nascer), Ç (cabeça), X (próximo, sexta), Z (rapaz). Escreveríamos pásaro, sena, cabesa, prósimo, sesta. O espanhol possui um procedimento semelhante com o S.
4.    O Z assumiria todos os sons de z como o do S (rosa), X (êxito). Grafaríamos assim: roza e êzito.
5.    O G seria sempre duro, sem necessidade do uso u diante de E e I. Gama (gama), guerra (gerra).
6.    O J representaria os sons dele mesmo e do G diante de E e I, como em gesto (jesto), gênero (jênero).
7.    O H sem som seria eliminado. Como já acontece por força da tradição com a palavra erva, em latim escreve-se herba. O h só existe em português por razões etimológicas. Durante a história, variou-se muito o uso desta letra.
8.    O H representaria o som do R e RR guturais e o R representaria o som rolado. Já que no latim clássico e no grego o h já teve som aspirado. Rapaz (hapas), caro (caro). Suprimir-se-ia o R final dos infinitivos.
9.    O X representaria os sons de ch(chapéu), x(xarope). Porém, o som do x em exemplo (seria ezemplo) e em sexo (seria secso).
10.    O LH seria trocado pela duplicação do ll como no espanhol. Galho/gallo.
11.    O NH por uniformidade também se duplicaria, nn. Galinha/galinna.
12.    O L final com som de U seria trocado pelo seu correspondente. Teríamos cal (cau), animal (mau). Isso de fato já aconteceu com a palavra mau que vem do latim malu.
13.    Os acentos gráficos não seriam abolidos porque representam uma vantagem para a leitura. Apenas a regra seria uniforme: Acentuar-se-iam todas as proparoxítonas e todas as oxítonas e nenhuma paroxítona, porém, acentuar-se-iam os hiatos e monossílabos. A língua Guarani possui um modelo de acentuação gráfica semelhante.

Para uniformizar a ortografia e torná-la mais lógica, vários modelos são possíveis. Neste, eu tomei como referência exemplos de emprego das letras dentro do latim e das línguas neolatinas. A concessão mais radical que fiz foi usar o h no lugar do r gutural. Às vezes, se leva propostas como essa como comédia, mas seria uma solução radical para resolvermos o problema da ortografia. Um modelo mais exótico que esse seria muito mais difícil de ser aceito. As pessoas são muito apegadas ao costume. E encaram o novo com repugnância. Com tempo, realmente, tudo se encaixaria. A grafia da internet já nos ajuda a não estranhar tanto uma ortografia assim.
Encerro demonstrando como ficaria o artigo 1º da Declaração dos Direitos Humanos “Todos os seres umanos nasem livres e iguais dignidade e direitos. Dotados de razão e de consiensia, dev agi ûs para cõ os outros espírito de fraternidade” (“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”). É uma diferença aceitável.

*Filósofo e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.

0 comentários: