A LIBERDADE HUMANA E AS DUAS FACES DA DITADURA
José Aristides da Silva Gamito
A renúncia do ditador egípcio Hosni Mubarak nos leva a refletir sobre os limites da liberdade humana, partindo de um paradoxo. Reclamamos dos abusos de poder, mas temos de pensar que a ditadura tem duas faces. Há a ditadura da minoria e da maioria. Todas as duas situações são problemáticas. A generalização parece ser a chave desta discussão. Há pessoas que usam o seu poder para colocar todos debaixo de sua visão de mundo; existem grupos e sociedades que não admitem variantes e nem singularidades dentro de seus quadros de valores.
A América Latina sofreu terríveis ditaduras no século passado. As ditaduras têm como pretexto a segurança nacional ou o bem comum. Por causa de uma suposta emergência, um partido toma o poder e derruba as leis, passando a governar sozinho. E tudo que seria provisório, fica sem data de encerramento. Geralmente, os ditadores são oportunistas. A atitude deles é racionalizada e justificada por um discurso de altos valores. Hitler, por exemplo, seduziu multidões.
Os regimes totalitários indubitavelmente são desastrosos para a liberdade e a dignidade da pessoa humana. Mas também é agressiva a ditadura da maioria. A televisão, o mundo da moda, sistemas religiosos, são instrumentos de homogeneização, têm como finalidade igualar comportamentos, sufocando assim a individualidade. Dentro das tradições religiosas, quando uma pessoa discorda de um princípio de fé ou destoa de um costume, ela sofre uma retaliação social. No fundo, a ideia que prevalece é a de que se todos acreditam assim desde épocas remotas porque agora alguém quer se comportar de modo diferente. O mais desastroso é quando esta autoridade remonta ao próprio Deus.
A pluralidade, a multiplicidade desafia muita gente. É muito mais fácil governar sem oposição, conviver com quem pensa igual. Os jovens de nossa época têm se mostrado muito intolerantes com a diversidade. Isso é péssimo sinal para os nossos tempos. A história ocidental tem sua trajetória marcada pela ditadura do Uno. As formas de governo eram monárquicas, predominância cristã de um só Deus, havia uma Igreja predominante, o saber buscava uma única verdade. O renascimento pôs em questão essa visão monótona da vida.
Nos tempos atuais, muitos sistemas de governo ainda resistem à democracia. É um comodismo estatal. Além disso, há a acusação de que os países democráticos são liberais demais. É prudente levar em conta esta última constatação. É claro, países como o Brasil precisam aplicar uma democracia aliada a uma boa educação, sem cidadania e consciência de direitos e deveres, tudo se torna uma anarquia. A sociedade precisa de referências sólidas. Mas nenhuma forma de ditadura é solução para os problemas. Na verdade, ela é uma saída incompetente e desesperada para alguma situação indesejada.
*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.
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