PIRATARIA E PLÁGIO: UMA CRISE DE CRIATIVIDADE E DE AUTONOMIA
José Aristides da Silva Gamito
Os recursos que a internet e a mídia em geral nos oferecem hoje ameaçam a propriedade intelectual. Esses meios possibilitam a produção legal e a reprodução ilegal de milhares de bens culturais. Os crimes de pirataria e de plágio se tornam cada vez mais comuns. A pirataria de CDs e DVDs com a qual deparamos cotidianamente em nossas cidades tem como sua fonte principal a internet. Assim como o plágio de trabalhos escolares e diversas pesquisas acadêmicas do ensino básico ao superior. Há professores que até já se acostumaram com essa situação e fazem vista grossa. Do mesmo modo que a população não se importa com a aquisição de mídia pirateada porque é mais barata e acessível a todos.
A pirataria de mídia em nosso país representa uma solução ilegal para um bem que tem preço muito acima do poder aquisitivo da população. Como a tecnologia conquistou e fascinou todo mundo, ninguém se contenta mais em ficar fora desta novidade. Nós sabemos muito bem que comer, beber, ter saúde e se vestir dignamente são direitos básicos. Alguns programas do governo como bolsa-família, bolsa-escola tentaram assegurar o direito de estudar e de se preparar para um futuro mais digno. Muitas famílias carentes usam o dinheiro desses benefícios para adquirir aparelhos de som, de DVD e outras mídias. O mais desafiante é que isso acontece em detrimento de outras necessidades básicas da família. Isso é prova que a tecnologia seduz demais.
Como diz a canção dos Titãs “A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte...”. A nossa sociedade tem fome e sede de bens muito além da comida e da bebida. O preço de um CD, de um DVD e de um livro é muito alto para uma sociedade tão carente. Nesse sentido a coibição da pirataria se torna um desafio ético.
Por outro lado, o plágio que se torna tão corriqueiro na vida das pessoas, a pirataria insensata e desnecessária parecem adormecer o nosso cérebro e destruir toda a nossa autonomia e criatividade. Esse comodismo vem de muito longe. A calculadora resolve nossas contas. A internet dá as respostas prontas para o que precisamos. Os alunos copiam seus trabalhos da internet sem o menor esforço, nem mesmo organizam o que colhem na internet. Muitos profissionais que agora nos prestam serviços passaram o tempo todo da faculdade encomendando e copiando trabalhos e pesquisas.
Assim, temos uma educação “pirata”. Ninguém mais pode ser reprovado, ninguém mais é obrigado a pensar. Tudo se faz através das aparências. O “parecer ser” se torna mais importante do que o “ser”. É o famoso mundo do Ctrl + V e do Ctrl + C, ou seja, copiar e colar. Não importa se sabemos ou não o que estamos fazendo. Ninguém percebe implicações morais nisso. Para quem acompanha nossas reflexões, deixo o meu e-mail para que possa deixar seu comentário: joaristides@bol.com.br.
*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.
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