domingo, 27 de fevereiro de 2011

Educação:


VOLTA ÀS AULAS E O PAPEL DA FAMÍLIA NA VIDA ESCOLAR DOS FILHOS

José Aristides da Silva Gamito

A volta às aulas para muitos pais significa um alívio. As crianças vão passar menos tempo com eles e agora não terão que aturar a indisciplina dos filhos, ter cuidado redobrado com eles dentro de casa. Uma parcela significativa de pais apenas matricula e renova as matrículas dos filhos, mas não acompanha a vida deles na escola durante o ano. A família transfere a responsabilidade para os professores. Outros reaparecem na escola para tirarem satisfação sobre o fracasso escolar dos filhos.
A educação, em nosso país, fica muito a desejar em qualidade justamente por causa desta parceria que não existe. A presença do Estado com investimento e valorização dos educadores é pequena. A família exime-se de sua responsabilidade. A escola sozinha com poucos recursos carrega sobre si o peso da responsabilidade de formar cidadãos e pessoas aptas para o mercado de trabalho. O artigo 2º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação nacional diz que a educação é “dever da família e do Estado”. Não é uma transferência de responsabilidades, é uma parceria.
Os educadores quase sempre reclamam da ausência de pais em reuniões da escola. É preciso desenvolver um mecanismo legal que obrigue os pais a cumprirem este dever de acompanhar a educação dos filhos. O Estado falha também em não cobrar a parceria da família de modo eficaz.
A educação perde em qualidade por causa da negligência dos seus principais responsáveis. A carreira do professor é organizada de forma que não lhe dá estabilidade e as devidas condições e direitos de cuidar da vida pessoal, familiar e da saúde. Em Minas Gerais, a famosa Lei 100 deu uma falsa estabilidade ao educador. Há muitos mecanismos ambíguos do Estado. Eles parecem investimento na Educação, mas ainda são compras sutis de votos. Nas últimas eleições para governador em nosso estado, a Lei 100 representou uma negociação de voto. Alguns deputados usaram esses argumentos para aliciar votos de professores, queriam recuperar o desprestígio que a greve de 2010 trouxe para eles.
A educação passa a ser negociada com troca de benefícios, cumprimento de tabelas e de burocracias. Outro problema desafiante é que as normas de contratação de professores, sistemas de avaliação dos alunos, não levam em conta a qualificação e o rendimento. Professores sem formação na área específica tendem a prejudicar a aprendizagem em sala de aula. Por exemplo, eu assisti à contratação de um professor de geografia para lecionar filosofia, em cuja listagem de classificação havia dois filósofos. São vários fatores que ocasionam a educação de baixa qualidade. Há gerações inteiras de alunos chegando ao fim do Ensino Médio domínio da leitura e da escrita. Enquanto, não houver um empenho maior na organização do nosso sistema educacional, muita coisa continuará a desejar.

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.

0 comentários: