domingo, 27 de fevereiro de 2011

Filosofia e Condição Humana

A CRUELDADE DENTRO DA CONDIÇÃO HUMANA

José Aristides da Silva Gamito

Quando analisamos a história a partir de seu aspecto negativo não há como não concluir que o ser humano é cruel. Todos os animais praticam a violência como meio de adquirir alimento ou para se proteger. Ao contrário, o ser humano pode ter todos os bens necessários à sobrevivência mesmo assim é violento com seu semelhante. As relações cotidianas estão repletas de atitudes cruéis. Nas escolas há o bullying, nas universidades há os trotes, nos estádios o confronto das torcidas organizadas, na rua assaltos e acidentes automotivos por negligência. Em grande escala, há a desiguldade social que fere a dignidade de milhares de pessoas. A sociedade acaba sendo conivente com essas ondas de crueldade.
A solidariedade, o lado oposto, é muito tímida. As atitudes como a gentileza e o voluntariado são comportamentos restritos a poucas pessoas no mundo capitalista. Nem o cristianismo em toda a sua presunção de humanista não consegue romper com esses comportamentos indesejados. Aos fins de semana, nas igrejas, sentam-se lado a lado o opressor e o oprimido e os sermões sobre fraternidade não surtem efeito.
As grandes instituições políticas e religiosas da história se ergueram em cima da violência. As guerras, a Inquisição, o Holocausto e as formas extremas de execução de penas. O ser humano sente prazer em ver o outro sofrer. Prova disso eram os combates nos anfiteatros romanos. Escravos e cristãos eram expostos às feras. A plateia vibrava. Há resquícios disso hoje ainda nas competições de artes marciais quando vemos com satisfação nosso lutador preferido massacrar o oponente.
Aquela satisfação que alguém sente em punir o outro, chamada erroneamente de justiça, na verdade é o instinto da crueldade. A finalidade da justiça é restaurar e não destruir. A participação dos telespectadores na eliminação de participantes em realities shows demonstra esta crueldade em derrotar o outro. As nossas relações estão repletas desses exemplos.
Afinal, o homem é naturalmente cruel? Há algumas afirmações perigosas que podem justificar o mal. Se admitirmos esta condição o mal passa a ser justificado como natural. Algumas interpretações errôneas da seleção natural aplicadas à moral tendem a isso. O que podemos constatar é que o homem é instintivamente ambíguo: Pode distribuir flores ou empunhar armas. A tomada de consciência como sujeito dentro de uma cultura é o que fará a diferença. Pela educação o homem seleciona os instintos mais benéficos para a sua vida em sociedade. Não há como viver isolado e a condição para isso é a educação dos instintos para a cooperação e a solidariedade.
A crueldade dentro da condição humana não deve nos tirar a esperança. Ela nos alerta para fortalecermos a educação e os sistemas de justiça para que o homem possa aperfeiçoar a sua condição de solidário, de amável e de gentil. Hoje percebemos que esta cooperação garantirá a sobrevivência da espécie e do planeta como um todo. Cruel? Sim, mas também solidário!

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.
Cf.  http://www.diariodemanhuacu.com.br/

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