domingo, 27 de fevereiro de 2011

Religião e Pensamento:



POR QUE DEUS SE SILENCIA DIANTE DAS CATÁSTROFES?

José Aristides da Silva Gamito

            Todos os anos durante os meses chuvosos nós assistimos ou sofremos com catástrofes naturais. Esta semana as cidades da Região Serrana do Rio de Janeiro, Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis, sofreram perdas humanas e de bens com as enxurradas. Justamente no mês em que completa um ano das tragédias em Angra Reis e no Haiti. As pessoas religiosas dão muitas explicações para os acontecimentos trágicos da vida humana, mas quando é uma tragédia de grandes proporções fica difícil dar respostas.
            O Holocauto Nazista, por exemplo, foi um desafio enorme para a fé. Por que um Deus tão bom permite uma crueldade tão grande assim? Primeiramente, precisamos distinguir a ação humana da ação da natureza. Sobre essas duas podemos fazer muitas análises, mas para a decepção de muitas pessoas de fé, sobre o silêncio de Deus quase nada podemos dizer. O cidadão do século XXI terá de aprender muito sobre os efeitos da ação humana sobre a natureza. Há catástrofes que fazem parte da ação natural sem interferência humana, mas muitas outras que sofremos já são resultados da ação humana.
            O grande perigo é atribuir a autoria dessas catástrofes a Deus. E a literatura bíblica dá muito respaldo para isso acontecer. O povo hebreu do Antigo Testamento entendia as catástrofes como punição de Deus. Cada tempo tem sua compreensão dos fatos. Mas atualmente precisamos de discernimento, de capacidade de reconhecer os erros e corrigi-los e quanto às falhas espontâneas da natureza não temos como controlar diretamente, mas podemos usar a ciência e a tecnologia para a prevenção, evitando assim que os efeitos não sejam tão devastadores.
Tragédias como a do Haiti fogem ao controle do homem, mas as tragédias urbanas decorrentes das chuvas podem ser evitadas através do planejamento das cidades e da conscientização da população quanto às moradias. É claro, o Estado precisa dar condições para que as pessoas sem opção de moradias não sejam obrigadas a procurarem áreas de risco. Falta bastante atenção nessa área, este fato pode ser notado em muitas cidades da nossa região.
Agora quanto a Deus, a única afirmação que podemos dizer é que se ele é bom não pode ser o autor do mal, caso contrário, você estaria atribuindo a imperfeição a Deus. E nesse caso, não são válidos aqueles argumentos corriqueiros como “Deus está punindo os pecados”, “isso é um exemplo para os pecadores”. Na interpretação dos textos da Bíblia, geralmente se confunde justiça com misericórdia. Se Deus é misericordioso, não se pode aplicar-lhe uma justiça à moda humana. Aliás, nem justiça poderia se atribuir às tragédias porque muitos inocentes morrem lá. Por fim, as religiões precisam reavaliar muitos conceitos para não terem uma visão distorcida da realidade e que não é mais tolerável em nosso tempo.


*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.

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