sexta-feira, 11 de março de 2011

Fundamentalismo Religioso:

A VIOLÊNCIA RELIGIOSA E O PROBLEMA DA VERDADE

José Aristides da Silva Gamito*

Edições do livro do papa em várias línguas.


A recente publicação de Bento XVI “Jesus de Nazaré – Da Entrada em Jerusalém até a Ressurreição” sobre o sentido teológico da última semana de vida de Jesus trouxe à tona a discussão sobre a violência religiosa e os verdadeiros fins da religião. Entre outras afirmações, o livro traz importantes declarações para apaziguar a relação entre as religiões. O papa afirma que a religião não pode se afirmar por meio da violência, que os judeus não são coletivamente culpados pela morte de Jesus e também que Jesus nunca pretendeu uma revolução violenta. Tais afirmações são bem-vindas em um contexto de divergências religiosas.
Em muitos momentos da história, a religião foi o combustível mais perigoso para deflagar uma guerra. O ser humano leva muito a sério suas convicções religiosas, e uma vez que essas chegam ao nível do fundamentalismo, qualquer medida para assegurá-las é legitimada. Quando uma verdade religiosa se fecha e cristaliza no tempo, os fiéis a tomam com segurança. Dar uma nova interpretação a ela não é tarefa fácil.
As Cruzadas, a Inquisição, o consentimento da escravidão negra na América, tudo isso advém de posições religiosas cristalizadas, que não permitiram um reexame. A cultura e as relações sociais foram se transformando, mas os princípios de fé continuaram sendo expressos do mesmo modo.
Quando a consciência endurece, torna-se insensível às mudanças, e até mesmo valores como fraternidade e compaixão são esquecidos ou deixados em segundo plano. Isso pode ser observado em muitos momentos históricos nas atitudes de cristãos, judeus e mulçumanos. Eles quiserem defender tanto seus dogmas que esqueceram até de amar o próximo. E o próximo na ética cristã é o outro humano indiferentemente de sua confissão religiosa.
A verdade fechada é um risco em todos os aspectos da vida. É preciso lembrar às pessoas de fé que o zelo em excesso torna-se vício. O Brasil é um país tolerante, mas ainda vemos católicos e evangélicos se estranhando. Muitos cristãos têm a tentação de satanizar as religiões afrobrasileiras. Existem famílias que se dividem por causa da intolerância religiosa. Ainda temos muito a aprender.
Agredir, tolher a liberdade, restringir direitos, evitar a convivência por causa de divergências religiosas é o maior contratestemunho que um fiel pode dar à sua religião. É a máxima contradição que anula as bases dos valores que a pessoa quer defender. Se a religião não promove a vida, então, não é benéfica. Portanto, não pode ser atribuída a Deus.

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.

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