segunda-feira, 23 de abril de 2012

Diálogos sobre o Cristianismo:


O QUE FIZERAM DO LEGADO DE MARTINHO LUTERO?

José Aristides da Silva Gamito*

Nos últimos dias, conversando com alguns evangélicos eu percebi o quanto que umas vertentes do evangelismo se distanciaram da Reforma Protestante do Século XVI. O esforço e o ideal de Martinho Lutero foram traídos por muitas igrejas. Refiro-me principalmente ao movimento neopentecostal. A doutrina da Sola Scriptura transformou-se na Sola voluntas mea. A interpretação individual da Bíblia se tornou regra de fé e as impressões dos fiéis se tornaram revelações divinas. Muitos se comportam como intérpretes da vontade divina e abusam do texto bíblico com uma interpretação literal e radical.
A Reforma Protestante apareceu na história do cristianismo como uma oportunidade ímpar de reabastecimento, de revisão. As reações foram muito institucionalizadas e o ideal do cristianismo foi pouco considerado. Em pouco tempo, vimos os ideais da Reforma serem ignorados. Muitos se aproveitaram da liberdade religiosa para criarem um cristianismo a seu modo.
É estranho constatar que novas igrejas têm comportamentos medievais. Muitos fiéis tendem ao fanatismo, à ideia de um Deus vingador e à tentativa de implantar uma teocracia na política brasileira. O neopentecostalismo se sustenta sobre ideias radicais e resgata, de certa forma, um cristianismo medieval. Essas tendências podem percebidas em Igrejas Neopentecostais assim como na Igreja Católica. No catolicismo, a Renovação Carismática representa esta tendência.
Este retrocesso soa negativo para o evangelismo em relação a Lutero. O combate de Lutero ao catolicismo medieval parece não mais servir de referência para muitos evangélicos. Retrocesso parecido acontece na Igreja Católica indo de contramão à reforma do Concílio Vaticano II. É assustador em nossos tempos perceber tal retrocesso nas Igrejas Cristãs. O fundamentalismo religioso é um grande mal em uma sociedade, além de ser contrário ao espírito do Evangelho, por conter em si uma violência ideológica!


*Bacharel e licenciado em filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.

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