quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Opinião XI

ENTÃO É NATAL E O QUE VOCÊ FEZ?

José Aristides da Silva Gamito

             “Então é Natal e o que você fez?” Esses versos da canção nos fazem pensar sobre o sentido das festividades de fim de ano. A cada Natal esta antiga festa cristã se torna mais capitalista.  No sistema capitalista, tudo se torna produto comercializável, inclusive a solidariedade do Natal. Nessa ocasião, as pessoas se sentem obrigadas a gastar, a dar presentes. Porém, o ato de presentear não se harmoniza com o genuíno espírito da ocasião. A gratuidade se perde em meio a tantas trocas, compensações.
            Ao chegar o fim do ano, nós nos perguntamos se temos motivos para celebrar um Natal de comidas, bebidas e guloseimas. Nesses dias, tudo se torna muito poético. As músicas inspiram ternura e aconchego. Mas precisamos nos lembrar de que a fome, a miséria e o desrespeito aos direitos humanos continuam acontecendo em muitas partes do mundo. E muitos atentados contra a vida acontecem na nossa vizinhança. Mas conciliar o direito de celebrar estas festividades com nosso compromisso com a solidariedade é um grande desafio. Muitas associações e empresas passam o ano todo sem realizar uma ação solidária e somente nessas ocasiões são impelidas pelo hábito a fazer alguma ação social. E a consciência dessas pessoas fica confortada, com a sensação de dever cumprido.
            No mundo contemporâneo, anda esquecida uma qualidade humana muito importante que é a gratuidade. O capitalismo se apossou do desejo de retribuição, da mercantilidade do espírito humano para sustentar seu mecanismo de sobrevivência. O voluntariado é tão pregado hoje, justamente pelo fato de a sociedade pender para o lado da necessidade de recompensa em tudo. Cotidianamente, nós ouvimos alguém dizendo “eu não vou me envolver nisso, eu não vou ganhar nada com isso”.
            A existência humana parece estar marcada por essas duas dimensões: A gratuidade e a mercantilidade. As pessoas que se deixam guiar pela gratuidade são mais generosas, abertas às novidades, às surpresas da vida. Elas não buscam uma recompensa absoluta e necessária para as suas ações. Sobressaem-se bem até diante das tragédias. E nem adiam tal premiação para a vida pós-morte. Ao contrário, quem se guia pela mercantilidade age somente estimulado pela recompensa, seu processo de humanização ainda está muito dependente de instintos naturais de sobrevivência.
 A religiosidade presente nessas pessoas busca uma recompensa na vida futura. Elas fazem o bem para merecerem o céu e não porque se sentem sensibilizadas pela condição de vida de seu semelhante. Essa idéia é bastante presente no cristianismo. As pessoas de fé transferem todo significado da vida para a eternidade e vivem uma forte dicotomia entre o bem e o mal, o céu e o inferno, a graça e a recompensa. Na Idade Média, isso foi forte na religiosidade popular.
O capitalismo adorou essa tendência de premiação. Mas como bons cidadãos, pessoas críticas, precisamos saber dosar as coisas. Salvo o direito se confraternizar com os familiares e os amigos, que não nos esqueçamos do espírito de solidariedade que o Natal promete. Mas que essas ações não sejam de um dia só. Desejo a todos os leitores do “Diário de Manhuaçu” um Feliz Natal!

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.

Opinião X

MANIFESTO PELA REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO POLÍTICO

José Aristides da Silva Gamito

            Desta vez vamos conversar um pouco sobre a urgente reforma política do Brasil. O tema específico é a regulamentação da profissão político. Segunda a atual constituição (artigo 37), de 1988, os cargos públicos devem ser conquistados mediante concursos. A exceção são os cargos legislativos e executivos que são obtidos através de votos merecidos ou comprados. Isto quer dizer que para ser vereador, prefeito, deputado, governador, senador e presidente não é necessário mostrar competência, mas apenas atrair a simpatia do povo. Na verdade estes cargos deveriam passar por um processo seletivo, antes de serem levados à votação popular.
            Muitas pessoas habituadas a velhos hábitos políticos acham que a exigência de um concurso público para os cargos políticos seria prejudicial à democracia. Se todos os demais cargos públicos exigem a demonstração do domínio de conhecimentos gerais e específicos para merecê-los, a atividade política exigiria isso e muito mais por se tratar de uma função de grande poder de decisão dentro de um país.
            Os candidatos a cargos políticos deveriam passar por um concurso que medisse a competência técnica deles através de provas de conhecimentos gerais e específicos, depois seguida da análise de antecedentes criminais e da apresentação de um currículo que demonstrasse previamente o interesse deles por questões sociais e políticas. Principalmente, o envolvimento em trabalhos voluntários. Sem medir o perfil ético do candidato o concurso não seria também muito útil! E claro, durante o mandato o máximo de transparência por parte do político e a vigilância dos cidadãos. Isso não seria a fórmula para o fim da corrupção, mas seria um grande passo para uma democracia de verdade!
Os cargos municipais deveriam exigir o Ensino Médio concluído, acrescido de um curso técnico profissionalizante em Administração Pública, Ciências Políticas ou outra área afim. Já para os cargos estaduais e federais deveriam ser exigido Curso Superior nas áreas do conhecimento referentes à administração, leis e política. Como pode uma função legislativa ser desempenhada por alguém que não entende de leis? O gasto com assessoria diminuiria bastante. Seria o fim de privilégios como direitos a assessores, cargos de confiança, nepotismo, imunidade parlamentar, salários colossais e tantos outros abusos.
Mas essa medida não elitizaria a entrada do cidadão para a vida política? Não. Estamos numa época em que o acesso à educação gratuita tem melhorado muito e todo cidadão de bom senso, ao se interessar pela vida pública, espontaneamente procuraria se especializar para servir melhor seu país. O problema cultural que impede a aceitação do fim deste privilégio é a tentação de se chegar ao poder pela simpatia, pelo poder aquisitivo ou pela influência social. Tudo isso é resquício do coronelismo, saudosismo dos hábitos monárquicos, apego ao domínio de uma aristocracia. E tais leis não mudam porque quem as faz são políticos eleitos dentro do sistema atual e eles não querem perder privilégios. Por meio de concursos, muitos deles nunca mais voltariam à vida pública.
E quando aparece um caso como o do Tiririca, percebe-se que o interesse é meramente ridicularizar a figura do “popular”, não há interesse sincero em regulamentar a entrada do cidadão para a carreira política. É uma hipocrisia total! Muitos vereadores votam em projetos que eles não sabem explicar o seu teor e aplicabilidade, votam apenas por interesses alertados pelo partido. Há deputados que não dão conta sequer do jargão empregado nas discussões rotineiras da câmara. E tentam de modo desajeitado casar “Vossa excelência” com “canalha”, em seus debates dizem, despudoradamente: “Vossa excelência é um canalha!”.
Esta questão precisaria ganhar o gosto popular para que um dia venha a ser realidade. Nós não ignoramos aqui os casos de políticos, com pouca formação, que foram ótimos administradores. Mas se a pessoa tem carisma, tem aptidão e competência, ao procurar a carreira política, deveria usar o bom senso e procurar uma formação técnica para que suas aptidões estejam ainda mais bem preparadas para fazer da ação política um serviço em favor do bem comum. Técnica e ética, carisma e competência têm de andar juntos em todo tipo de profissão! Parece ousado esta reivindicação, mas a profissão político precisa ser urgentemente regulamentada dentro dos moldes democráticos assim como todas as demais profissões no nosso país!

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.

Opinião IX

O PODER LOCAL E A FRAGILIDADE DA DEMOCRACIA BRASILEIRA

José Aristides da Silva Gamito
             O Brasil, em termos legais, é uma democracia desde 1988. Porém, ao compararmos os ideais vislumbrados na nossa constituição com os crimes de abuso de poder acontecidos nos últimos anos, ficamos em dúvida quanto à efetivação desses princípios. Assim como ficamos estarrecidos, este ano, com a ausência do Estado no Complexo do Alemão, podemos também descobrir a fragilidade do Estado em tantas outras regiões do país.
            O assassinato do prefeito de Jandira (SP), Walderi Braz Paschoalin (PSDB), nos faz retomar a discussão sobre se no Brasil a democracia se consolidou de forma real em todo território nacional, ou se é apenas um documento respeitado em algumas instituições ou grandes centros. Temos outros exemplos de violência pública que desafiam os direitos civis e humanos.  Em 2005, Doroty Stang foi assassinada em Anapu (PA) por defender o meio ambiente e as pessoas dependentes da terra. Em 2007, em Pingo D’Água (MG), foi assassinado o sindicalista João Alves Calazans por causa de irregularidades na aquisição de lotes. Uma demonstração de que a segurança e os ideais democráticos não conseguem conter totalmente o poder autoritário local.
            A grande mídia exerce um poder de vigilância nos grandes centros, apesar dos escândalos políticos e administrativos, a democracia parece ser respeitada nessas áreas. Porém, quando nos detemos em regiões menos vigiadas pela mídia, os crimes de abusos da democracia passam despercebidos.
            Em nossa região, ouvimos inúmeros casos de desmando dentro das prefeituras. Quando alguém que detém o poder principal é denunciado, sempre há um deputado ou outra autoridade que acaba silenciando o caso. Há muitos reclames, mas pouco poder para a população reagir e denunciar essas irregularidades. Em se tratando da aplicação dos ideais democráticos, o poder local é mais fraco. Os concursos públicos municipais, aberturas de editais, são feitos de modo meio velado, meio controlado, e muitas prefeituras manipulam o resultado desses processos seletivos. A intenção é fazer valer todos os interesses do partido dominante.
            Em muitos municípios, em época de eleições, a gente ouve a expressão “a política vai virar!”. A política é confundida com interesses partidários. Todos os funcionários ficam inseguros. Quem tem competência técnica para exercer determinado serviço é trocado por alguém sem o mínimo conhecimento. Isso simplesmente porque há um interesse em conseguir votos na próxima eleição. De um modo exagerado, poderíamos dizer que o prefeito é, de certa forma, a continuidade do “coronel”.
Há muitas denúncias que são caladas por ameaças de destituição de cargos, ou de obstrução da possibilidade de alguém realizar seus projetos, de desempenhar legalmente sua função. Essas situações nos levam a pensar que os ideais democráticos são mais frágeis, e menos respeitados no poder local, faltam mais vigilância do Estado e mais esclarecimento e autonomia do cidadão.


*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.

Opinião VIII

A ORIGEM E AS FACES DO MAL: O DILEMA DE EPICURO PERMANECE ABERTO

José Aristides da Silva Gamito
            Diante de tanta violência e sofrimento, que acompanhamos pelos noticiários nos últimos dias, retornamos a uma antiga questão do ser humano: Qual a origem do mal? Por que há o sofrimento? Muitas respostas já foram dadas a este problema quase insolúvel. Há muitas teorias sensatas, mas todas incompletas. O primeiro a se deparar formalmente com este questionamento foi Epicuro (341-270 a. C.). O filósofo se perguntava se era compatível a existência de um deus bom com a presença do mal no mundo. Então, ele lança o famoso dilema: “Deus quer impedir o mal e não consegue? Então, ele é impotente. Ele é capaz, mas não quer? Então, ele é malévolo. Ele é capaz e quer? Donde, então, o mal?”
            A partir de então, vários pensadores tentaram resolver este beco sem saída. Agostinho (354-430 d. C.) defendeu que o mal é resultado da liberdade humana e não da vontade de Deus. A primeira fase de preocupação com o problema foi religiosa. Séculos mais tarde, os marxistas descobriram os aspectos sócio-econômicos como fatores decisivos nas escolhas morais. Freud trouxe consigo a ideia de que muitas de nossas ações são inconscientes. Com a descoberta da genética, muitas tendências tidas como más são atribuídas a genes.
            O dilema de Epicuro, apesar de ter atualmente um foco mais humano e histórico, continua sem solução. Seriam forças inconscientes, seriam os genes ou seriam o ambiente e o tipo de educação que nos fazem agir de uma forma ou de outra? A única afirmação que podemos fazer é que o mal é multifacetário e não tem raízes no Além, está aí dentro e entre nós. O que nos parece mais sensato é partir do pressuposto de que não devemos buscar teorias mirabolantes sobre o mal, antes devemos é ganhar tempo combatendo-o e amenizando o sofrimento das pessoas.
            O filme Tropa de Elite 2 nos sugere uma presença bilateral do mal em nosso país. A corrupção está dentro da sociedade, tanto no meio dos traficantes, quanto no meio dos representantes do Estado: A polícia e os políticos. Uma primeira habilidade exigida é separar o “joio” do “trigo”. Uma tarefa nada fácil. Alguns dizem que as pessoas se corrompem porque são pobres; mas e aqueles que se corrompem por que são ricos? No meio de tanta incerteza, a educação e a atuação eficiente e responsável do Estado, sem dúvida, são elementos indispensáveis.
            O que nos preocupa tanto é o Brasil sendo um país de maioria cristã, possui tantos problemas sociais, visto que o discurso cristão comporta valores de uma sociedade ideal. Mas, a conivência com o mal e a corrupção estão presentes desde as prefeituras até o alto escalão do governo federal. A fórmula parece ser esta: Onde há poder, há possibilidade de corrupção. Nem mesmo as instituições religiosas com seus discursos moralizantes arrojados não escapam à corrupção. Existe uma conivência com o mal muito forte, o discurso não corresponde à prática.
            Ao problema do mal temos poucas respostas convincentes, mas nos resta a esperança de apostar numa educação para a liberdade e a responsabilidade, que seja bem regada de amor e bens necessários à vida digna, dentro das famílias e das escolas. Para que assim, a pessoas sejam menos seduzidas pelo mal e estejam mais comprometidas com a vida de modo integral.
*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.

Opinião VII

A FORÇA DO ESTADO PARALELO E O DESAFIO À SEGURANÇA PÚBLICA

José Aristides da Silva Gamito

            As ondas de ataques acontecidos durante esta semana no Rio de Janeiro reforçam a ideia de que o Estado Paralelo tem muita força. Quando um poder clandestino começa a competir com o poder oficial, as vias de solução e de combate são bastante drásticas. Porque estão em conflito dentro de um mesmo território um regime democrático e um regime anárquico. A população inocente acaba sendo vítima das investidas contra o Estado. E nem o Estado pode responder sem antes separar inocentes e culpados. Os bandidos mascaram e infiltram no meio de pessoas que não devem nada à justiça.
            A violência que muitas capitais brasileiras sofrem é resultado de décadas de descuidos no planejamento urbano, no investimento em políticas sociais e da ausência do Estado. A força de controle ideológico e financeiro de traficantes substituiu essa falta do Estado. Por isso, muitas vezes a população acaba sendo conivente com os bandidos. Isso agrava mais ainda quando a polícia tem de tomar medidas drásticas e acaba matando inocentes. As “balas perdidas” são um ponto negativo nesta luta. A polícia perde parte do apoio dos civis inocentes. Além disso, há abordagens inadequadas e efetuadas por policiais despreparados que acabam por ceifar vidas inocentes.
            As capitais durante muito tempo não souberam acomodar a população que já tinham e aquela que receberam através do êxodo rural. Os grandes centros cresceram e empurraram as pessoas para as periferias. O Estado era apenas visível nesse centro. Atualmente, os bandidos que surgiram nas periferias fazem o movimento contrário. Eles comprimem os grandes centros através de arrastões, incêndios de ônibus e perturbação da ordem pública. Além de dominarem as favelas, estendem seus tentáculos até as áreas elitizadas. Se o Estado não reagir vai se tornar refém do medo e do caos gerados por quem quer ordem em seu território e anarquia no território alheio.
            Em parte, o investimento lento e estratégico que deveria manter a população em segurança foi parar nos bolsos de muitos políticos bandidos. Temos de ter cuidado para não estigmatizar a população das favelas. Pois se alguém lá tem culpa pelo terror, os outros lá da política têm também a culpa pelo descaso e pela corrupção. Sempre existiram “bandidos de centros” e “bandidos de periferias”. Não podemos deixar a culpa só para um lado.
            A gente sempre torce para ser verdade a expressão “O Rio de Janeiro continua lindo”. Um país que pretende sediar as Olimpíadas e a Copa do Mundo teve a sua imagem bastante prejudicada esta semana. E muito mais grave, a paz e muitas vidas inocentes foram retiradas. Na internet, um usuário chegou a se perguntar qual situação seria mais complexa a do Rio ou da Faixa de Gaza.
*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Opinião VI:

O DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA E A ANÁLISE DOS AVANÇOS E RETROCESSOS DA INCLUSÃO SOCIAL


José Aristides da Silva Gamito

A comemoração do Dia da Consciência Negra nos leva a analisar o encontro da cultura africana com a europeia durante a colonização brasileira. A escravidão negra no Brasil durou de 1594 a 1888. São datas adotadas apenas como referências. No alvorecer da modernidade, durante a efervescência do antropocentrismo, práticas desumanas da antiguidade voltam a ser legalizadas pelo Estado. Naquela época, os reinos europeus começaram a procurar novas riquezas e a ordem era acumular bens. Os países que adotaram a escravidão como meio de exploração das colônias tiveram o beneplácito do cristianismo.
Em terras brasileiras, o encontro entre colonos e escravos africanos foi muito conflituoso. Houve influência mútua. Por um lado, o resultado nos aponta um enriquecimento da cultura brasileira por parte dos africanos.  Mas, por outro, os afro-descendentes receberam apenas preconceito, miséria e marginalização social em troca. A atual sociedade brasileira, que se diz democrática e tolerante, ainda vive muitos preconceitos raciais. Esta é a desigualdade: Os africanos deram ao Brasil o samba, a capoeira, o candomblé, os vários pratos que enobrecem a nossa culinária; mas o país deu em troca apenas exclusão social.
A herança sócio-econômica dos afro-descendentes destaca-se principalmente em relação à renda, à cor e à religião. Os descendentes de escravos no Brasil, em sua maioria, ainda continuam na linha da pobreza e da miséria. O Estado vive criando políticas desajeitadas de inclusão: Como exemplo, temos as cotas para o ingresso nas universidades. A linguagem cotidiana ainda revela muitos hábitos racistas velados. Muita gente já ouviu as expressões: “Ele é preto, mas é gente boa”, “um homem de cor”, “só pode ser serviço de preto”. No fundo, uma estranheza em relação ao diferente persiste apesar de todo avanço das leis.
Outra onda crescente é a satanização das religiões afro-brasileiras por parte de alguns movimentos e igrejas neopentecostais. Os orixás são encarados dentro desses cultos como demônios, os famosos “encostos”. Sendo que o Candomblé e outras religiões africanas não conhecem a ideia de Satanás presente no cristianismo. A intolerância religiosa contra os afro-descendentes está crescendo.
O etnocentrismo é a principal causa do preconceito racial. Quanto menos conhecemos de outra cultura, mais convicção nós temos de que a nossa é a verdadeira. E o que a gente não faz pela verdade? Perde até o senso de humanidade! Encerro com uma citação de Umberto Eco: “A única verdade é aprendermos a nos libertar da paixão insana pela verdade”. Este é o custoso ponto de dissolução de toda intolerância religiosa e étnica.

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.
Cf. Jornal Diário de Manhuaçu, 20 de outubro de 2010.

Opinião V:

OS IMPASSES DA EDUCAÇÃO EM NOSSO PAÍS


José Aristides da Silva Gamito*

            Depois de uma semana de comentários embaraçosos em torno do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), veio o momento oportuno para se falar sobre educação. Atualmente existem muitos ponteiros a serem acertados no relógio de nosso sistema educacional! Este ano foi marcado por debates na área da educação. Depois de 12 anos de existência, com os escândalos de 2009 e 2010, o Enem está prestes a perder sua credibilidade. Este ano os professores da rede pública estadual de Minas Gerais fizeram uma greve de 48 dias, os resultados obtidos ficaram aquém do desejado. Enquanto isso, os mesmos enfrentam desinteresses em sala de aula e uma crescente onda de violência nas escolas. Apesar do otimismo veiculado pelas propagandas do Estado, a educação não parece estar tão bem assim. Segundo os últimos resultados do PISA (Programa Internacional de Avaliação Comparada), o Brasil ocupa 53ª posição em matemática (entre 57 países) e a 48ª em leitura.
            Outro problema que está gerando discussão neste semestre é a negação por parte do Estado de Minas Gerais de incluir as disciplinas de Filosofia, Sociologia e Educação Religiosa no próximo concurso de professores. Quando as duas primeiras disciplinas citadas se tornaram obrigatórias no Ensino Médio, surgiu uma situação extremamente prejudicial à educação. Apenas 23% dos professores de filosofia e 12,3% de sociologia eram formados na área, segundo dados do governo federal.
            Em se tratando especificamente de filosofia, muitos estudantes acabam criando preconceitos em relação à disciplina porque o próprio professor a desvaloriza por desconhecê-la. As aulas se tornam fragmentadas e reduzidas a interpretações de textos aleatórios. Em nosso país existe um bom número de filósofos oriundos de seminários católicos. Porém, o Estado, por meio das superintendências de ensino, nega o espaço devido a esses. E, em seus lugares, estão lecionando filosofia pessoas sem qualificação na área apenas por questão de extensão de cargos. O sistema educacional continua preferindo prejudicar a qualidade da educação a abrir mão de uma questão meramente burocrática.
            O número de professores formados em sociologia é bem menor. Aliás, os filósofos e sociólogos se concentram mais no Ensino Superior. É um sinal claro de que o Ensino Médio tem pouco incentivo do Estado.
            A Educação Religiosa se encontra em uma situação mais complexa. Nem existe uma unificação de currículo, em muitas escolas continua sendo um instrumento de proselitismo. O professor não consegue tratar as religiões com igualdade, perde-se o senso acadêmico em razão de sua fé particular. Mais uma vez o ideal do Estado laico fica em desvantagem.
            Enquanto o nosso sistema educacional não reagir a esses impasses, muitos outros atrasos na educação virão se somar aos atuais. A esperança que nos resta é olhar para trás e ver que muita coisa, mesmo de um modo lento, já mudou!

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.
Cf. Jornal Diário   de Manhuaçu, 14 de novembro de 2010.

Opinião IV:

A DEMOCRACIA E AS MULHERES NO PODER



José Aristides da Silva Gamito*


            A eleição da primeira presidente do Brasil nos sugere uma conversa sobre as mulheres e o poder. Segundo o relatório da ONU intitulado The Word’s Women 2010, as mulheres ocupam 10% dos cargos máximos de direção de governo: Chefia de governo e chefia de Estado. A participação em parlamentos nacionais é de 17%. A abertura para a participação feminina na política avança de um modo muito lento, mas aos poucos algumas transformações estão ocorrendo. Há alguns anos seria impensável no Brasil um presidente índio, negro ou mulher. O direito de voto da mulher só foi reconhecido no país na década de 30. As recentes candidaturas de Heloísa Helena, Marina Silva e Dilma Rousseff nos levam a perceber uma mudança na mentalidade brasileira. O direito de participação reconhecido democraticamente e a confiança na capacidade da mulher governar.
            Esse desafio de aceitação enfrentado pelas mulheres fez parte de longos períodos da história ocidental. Somente a partir do século XIX, que o movimento feminista e a sugestão de antigos matriarcados na pré-história feriram o orgulho dos homens, pois, até então se pensava que a situação da mulher sempre foi de submissão. Isso era visto como uma condição natural. E o que se chamou de antropocentrismo foi na verdade um androcentrismo, ou seja, uma “ditadura cultural do macho”.
            As antigas culturas adoravam deusas e honravam heroínas. A principal responsável pela masculinização do poder no ocidente parece ter sido a civilização judaico-cristã. Alguns estudos chegaram até demonstrar que o Deus bíblico originalmente era cultuado como uma deusa pelas antigas culturas do Oriente Médio. O ponto de partida parece ser esta visão de um Deus masculino. A máxima representação do poder tornou-se masculina. Portanto, se o poder político era pensado como de direito divino, somente homens poderiam representá-lo legitimamente. Essa ideia pode ser observada no impedimento de mulheres serem sacerdotisas no cristianismo. Em síntese, uma cadeia de percepções e raciocínios deixou de enxergar a igualdade de direito da mulher.
            Para a nossa época parece sem sentido discutir o espaço da mulher na democracia. Em se tratando de teoria, e das atitudes de parte da sociedade, não haveria necessidade mesmo! Porém, ainda na cabeça de muitos homens e, também de mulheres, o feminino é inferior. Se não fosse assim, não haveria necessidade de uma lei como a Lei Maria da Penha no alvorecer do século XXI!
            A eleição de Dilma é um fato histórico importante sem dúvidas. A sociedade brasileira não pode é fazer deste feito mais um erro em relação à mulher. O próximo governo que se espera é de continuidade, mas tem de ser um governo com cabeça feminina. E isso vai exigir um pouco de compreensão dos lulistas que veem a Dilma como Lula II.

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.
Cf. Jornal Diário de Manhuaçu, 09 de novembro de 2010.

Opinião III:

O NOSSO JEITINHO BRASILEIRO DE CONCORRER


José Aristides da Silva Gamito*

            Existem algumas situações que nos levam necessariamente à reflexão. Refletir não é uma tarefa difícil para ninguém! Eu diria que é algo rotineiro. É muito fácil analisar e criticar as ações dos outros. Porém, o desafio que aparece diante de nós é a autocrítica. Quais os critérios que nos garantem a objetividade em nossas avaliações? Nós tendemos a ver aquilo que nos beneficia e aquilo que confirma nosso ponto de vista como verdade. Nesta discussão filosófica sobre conhecimento e verdade, não podemos nos esquecer que a nossa vontade, os nossos desejos, as nossas emoções, tudo participa de nossa decisão racional.
            As disputas partidárias, os confrontos entre diferentes religiões e, até mesmo, nossas diferenças de ideias do dia-a-dia nos levam a esse desafio. A ciência quis durante o auge do positivismo se construir como um julgamento impessoal, imparcial e objetivo. Mas todo mundo que parte para conhecer algo, sempre age motivado por determinadas intenções e interesses.
            O filósofo Nietzsche dizia que toda ação é “interessante e interesseira”. É claro que não podemos chegar ao cúmulo de pensar que tudo reside na base da troca! O capitalismo se baseia nisso. Mas quando observamos como os candidatos concorrem a uma eleição, como os membros e simpatizantes de um partido analisam os planos de governo, observamos o quanto é difícil ser justo e ficar isento de particularidades egoístas. É justamente essa habilidade que falta no nosso jeitinho brasileiro de pensar a democracia. Muitas pessoas veem isso diariamente acontecer nas prefeituras. Essas são instâncias mais vulneráveis à vingança e à perseguição político-partidária.
            A corrupção das bases é o fundamento da corrupção e dos maus hábitos da superestrutura. Muitas vezes, prefeitos, vereadores e pessoas influentes nas pequenas cidades subornam, usam a “camaradagem” para obter vantagens. E quando analisamos a mesma situação em uma macroestrutura como o país, ficamos assustados!
            Do mesmo modo, nossas convicções morais particularistas cedem constantemente lugar aos interesses da comunidade e da nação. Se você observar bem, perceberá que o Brasil tem uma carga moral e cristã muito rigorosa. Mas na prática não consegue reduzir a desigualdade social, não consegue praticar a justiça. Afinal, somos coniventes com o mal que acontece todo dia. Simplesmente porque não queremos nos opor, nos indignar. E acabamos fingindo que somos cidadãos, que somos cristãos, que somos irmãos. Na verdade o nosso jeitinho brasileiro de concorrer não nos deixar distinguir o pessoal do comunitário. E continuamos sendo coniventes com mal! Que o resultado dessas eleições possa nos indicar um caminho contrário. Tomara mesmo!

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.
Cf. Jornal Diário de Manhuaçu,  30 de outubro de 2010.

Opinião II:

AS ELEIÇÕES 2010 MOSTRAM OS NOVOS POLÍTICOS E OS NOVOS ELEITORES


José Aristides da Silva Gamito

            Quase na reta final para a realização do segundo turno, e Dilma Roussef (PT) e José Serra (PSDB) não baixam o tom. A disputa prossegue descortês e agressiva. Os assuntos como aborto e afirmações contraditórias continuaram a fazer da campanha eleitoral. Os programas veiculados no rádio foram mais diretos ainda que os da TV. Apareceu até a velha dicotomia de definir quem é “do bem” e quem é “do mal”. Em passeata, candidato chegou a chamar militantes do partido adversário de “fascistas”.
            Talvez as eleições deste ano nos tenham mostrado o perfil dos novos políticos e dos novos eleitores. Em se tratando de segurança do sigilo do voto, rigor da legislação eleitoral, o país deu um grande passo. Mas parece que a mentalidade dos políticos não evoluiu na mesma proporção. Uma tendência desta vez foi propor motivações religiosas e éticas para a escolha dos candidatos à presidência. Atualmente, no Brasil, tem crescido, por parte de alguns grupos religiosos, um desejo de construção de uma teocracia. Muitos ministros religiosos se candidatam para defender as ideias de suas Igrejas. Em troca, os membros/eleitores apoiam e fazem correntes em favor deles. O pior é que os adversários são tidos como inimigos de Deus. Um candidato a deputado federal, bispo evangélico, chegou a aconselhar para não votar nos adversários porque faziam parte de uma conspiração do mal para atacar “a Igreja de Jesus Cristo”.
            Outro aspecto importante é o aparecimento de candidatos que são celebridades do mundo artístico ou desportivo. São humoristas, atletas, ex-BBBs. Entre eles, apareceram o Tiririca, o Romário, o Bebeto, assim como antes Frank Aguiar e Clodovil vieram para o meio político. Para o eleitor, seria uma boa alternativa ou seria sinal de que a política está caminhando para a pior? Essas pessoas com novas experiências podem mudar a política, mas podem entrar simplesmente porque é mais uma profissão de destaque. E se todo mundo entra, eu também posso, porque “pior que tá num fica”, podem pensar alguns. Os novos eleitores, decepcionados com a política brasileira, preferiram dar um voto de protesto. Mas parece que outros caíram naquele comodismo de votar em fichas-sujas porque “isso não muda mesmo”.
            É importante deixar aqui bem claro que não é uma discriminação de classes, democraticamente, todo cidadão pode se candidatar. O que se pergunta são as motivações que levam a essa procura da vida política num país de corrupção e impunidade. Dentre esses aspectos analisados das Eleições 2010, nem é necessário comentar a lista dos fichas-sujas que foram eleitos.

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.
Cf. Jornal Diário de Manhuaçu, 23 de outubro de 2010.

Opinião I:

SEGUNDO TURNO: MOTIVAÇÕES RELIGIOSAS EM CAMPANHA ELEITORAL DENTRO DE UM ESTADO LAICO


José Aristides da Silva Gamito*

            O segundo turno das Eleições 2010 à presidência do país ganhou um tom de polêmica. As campanhas eleitorais dos dois candidatos, Dilma Roussef (PT) e José Serra (PSDB), desviaram o foco dos planos de governo e reduziram o debate a questões religiosas. Essa postura representa um retrocesso na vida política brasileira. Os políticos se esqueceram de que o Brasil é um país laico e democrático. Os discursos dos candidatos parecem sair de uma época em que havia perseguição religiosa e impossibilidade de debater democraticamente questões éticas.
            Quem acompanhou o horário eleitoral pôde observar o uso constante das expressões “respeito à vida”, “a favor da vida”, “dom da vida” e “família brasileira”. O apelo passou a ser dirigido à família. A linguagem ficou apelativa. Percebia-se claramente que a intenção era atacar supostas posturas ideológicas do adversário. Os demais direitos, deveres e melhorias que deveriam ser contemplados pelos planos de governo passaram para segundo plano.
            Os dois candidatos abriram seus programas para a TV nesta campanha usando a palavra “Deus”. No fundo, o que transparece é a polêmica do aborto. Este é um assunto sério e que exige maturidade, mas foi posto na hora errada. A questão está sendo banalizada ao se tornar matéria de chantagem “eleitoreira” para o segundo turno. Com isso, certamente os dois candidatos perderão votos significativos.
            Desde a campanha para o primeiro turno, já havia boatos a respeito das posições morais dos candidatos. Havia na internet, católicos e evangélicos, fazendo campanhas, ora para um, ora para outro, baseadas em princípios morais e religiosos. Aliás, no Brasil política e religião voltaram a andar juntas. Existem deputados que declaram que estão na política para defender a bandeira dos evangélicos ou a bandeira dos católicos.
            Quando se trata de uma campanha eleitoral dentro de um país laico e democrático, era de se esperar também planos de governos apresentados de maneira limpa, sem agressividade, sem apelar à fé ou à consciência das pessoas. O segundo turno deveria ser aproveitado para esclarecer melhor os programas de governo para que os eleitores tivessem oportunidade de avaliar bem e tomar decisões livres de pressões moralistas.

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.

Cf. Jornal Diário de Manhuaçu, 16 de outubro de 2010. Site: Diário de Manhuaçu.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Filosofia:

A FILOSOFIA DE FRIEDRICH NIETZSCHE

José Aristides da Silva Gamito, bacharel em Filosofia

Biografia
Friedrich Nietzsche foi um filósofo alemão. Ele nasceu em Röcken, no ano de 1844. Estudou nas Universidades de Bonn e de Leipzig. Estudou filologia, filosofia e teologia, Foi professor de filosofia na Universidade de Basileia, na Suíça. Morreu em 1900.

Obras
1871 – A Origem da Tragédia.
1872 – O Nascimento da Filosofia na Época Trágica dos Gregos.
1880 – Humano, demasiado humano.
1881 – Aurora.
1882 – A Alegre Ciência.
1883 – Assim Falou Zaratustra.
1887 – A Genealogia da Moral.
1889 – O Crepúsculo dos Ídolos.

Áreas de Concentração
Nietzsche pesquisou sobre linguagem, filosofia grega, cristianismo, razão, moral.

Tópicos de sua filosofia
A filosofia de Nietzsche é reconhecida pelo niilismo. Ele desconstrói a tradição filosófica anterior a si, reduz os valores morais a termos de utilidade. Não crê em uma verdade objetiva e absoluta pelo fato de o pensamento estar condicionado à linguagem. Não crê na história como finalidade, como um avanço rumo ao progresso.

“Deus está morto”
Esta conhecida afirmação se insere no contexto da crítica da metafísica. E refere-se ao anúncio do fim de fundamentos transcendentais da existência, de Deus, a síntese dos transcendentais, como justificativa e fonte de valoração da vida e da civilização.

Apolíneo e o dionisíaco
A partir da tradição grega, Nietzsche destaca na cultura e no homem duas tendências: O apolíneo e o dionisíaco. O apolíneo é a visão de sonho e tentativa de expressar o sentido das coisas na medida e na moderação, explicitando-se em figuras equilibradas e límpidas. O dionisíaco é a embriaguez criativa e paixão sensual, a humanidade em plena harmonia com a natureza.

Linguagem e verdade
A verdade é um conjunto de metáforas, de tentativas de conhecer a realidade. Mas tudo está sujeito à linguagem. Portanto, não há verdade absoluta porque a linguagem não pode expressar a essência das coisas.

Vontade e liberdade
A vontade no pensamento de Nietzsche tem um papel importante. Os impulsos humanos tendem a ampliar um desejo de vir-a-ser-mais-forte, de domínio. A vontade e a razão são as bases da ação humana. A vontade de poder é a força que impulsiona e move o ser humano à vida, à afirmação dos instintos fundamentais.

Cristianismo
Niezsche critica veementemente o cristianismo. Ele escreve a deturpação dos ensinamentos de Jesus mediante a pregação cristã de uma salvação no outro mundo e da preferência de valores que rebaixam a condição humana, que negam a vida. Ela denomina essa tendência de “moral de rebanho”.

Valores morais
Os valores morais não são naturais. Eles resultam de uma avaliação. Não existe nenhuma instância supra-sensível que os confirme. Esses valores são relativos e dependem das condições existenciais de cada grupo humano.

O eterno retorno
A história não tem uma finalidade. Segundo Nietzsche, deveríamos agir como se a vida viesse a repetir. Cada momento repetido várias vezes até a eternidade. Assim como a natureza, as coisas vivem por si mesmas, não possuem um objetivo.

Transmutação dos valores
Com a constatação da relatividade, do fim da crença em valores absolutos. Nietzsche desenvolve um projeto de reformulação dos valores humanos, procurando-os nas raízes anteriores ao cristianismo.

O super-homem
O übermensch é o estágio do homem no qual ele é conduzido unicamente pela vontade de poder. É a superação do próprio homem conduzido pelos antigos ideais.


Citações-chave
“Não há fenômenos morais, mas apenas interpretação moral dos fenômenos”.

“A ‘coisa-em si’ é um conceito sem sentido. Se eu remover todas as relações, todas as ‘propriedades’, todas as ‘atividades’ de alguma coisa, nada resta”.

“As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras”.

“No fundo, não existiu mais que um cristão, e esse morreu na cruz”.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Conversando sobre Filosofia

INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

José Aristides da Silva Gamito, bacharel em Filosofia

A
tualmente, a filosofia no Brasil está começando a atingir o gosto popular. Muitas editoras estão disponibilizando nas bancas revistas e livros sobre o tema. O Estado tornou a filosofia obrigatória no Ensino Médio. Porém, corre-se o duplo risco da aceitação e da rejeição. Por um lado, os eventos, publicações, valorização da filosofia, tudo isso está mais presente no país. Por outro lado, muitos professores que não são formados em filosofia têm gerado preconceitos e mal entendidos sobre a filosofia nos alunos do Ensino Médio. Os filósofos estão fora do Ensino da Filosofia. Isso pode gerar um mal estar e uma ineficácia na presente oportunidade que a Filosofia tem de mostrar o seu valor aos estudantes brasileiros. A seguir, alguns tópicos sobre Filosofia para quem está começando.

O que é filosofia?
Primeiramente, devido à longa tradição que possui o saber filosófico é difícil estabelecer uma única definição de filosofia. Apresentemos como ponto de partida a etimologia da palavra Filosofia. Em grego, Φιλοσοφία significa “amizade ao saber”. Segundo a tradição, foi Pitágoras (570-496 a. C.) que cunhou esse termo porque não se considera sábio, mas apenas “amigo do saber”, em grego, filósofo. Dentre tantas definições, vamos começar por esta: Filosofia é a investigação crítica e racional dos princípios fundamentais relacionados ao mundo, ao homem e a sua ação e seus valores.

Onde surgiu a filosofia?
A filosofia clássica surgiu nas cidades gregas situadas na Ásia Menor. Os primeiros filósofos partiram suas reflexões a partir dos mitos e dos temas religiosos da época. A primeira investigação pretendida por eles era saber qual o princípio de todas as coisas. Esses pensadores foram chamados de naturalistas. No estudo tradicional da filosofia, a primeira fase da história é chamada de Pré-socrática, porque inclui todos os filósofos que antecederam Sócrates ou tiveram uma temática distinta deste.

Quando surgiu a filosofia?
Os registros mais antigos de um saber filosófico são encontrados nos séculos VII e VII a. C. O filósofo considerado ponto de partida da história do pensamento ocidental foi Tales de Mileto (624-556 a. C.), viveu onde atualmente está situada a Turquia.

Quais são os objetos de investigação da filosofia?
Para começo de conversa, o homem é sujeito e objeto da filosofia. Isso quer dizer o homem enquanto ser e enquanto agente. A filosofia se preocupa com tudo que o homem é e tudo que ele faz e atribui valores. Mas para delimitar melhor o campo filosófico, existem várias subdivisões, cada uma se ocupando de um aspecto do homem ou da realidade. A seguir, os ramos da filosofia:
Ø  Lógica: Trata do raciocínio metódico e válido.
Ø  Ontologia: Trata da realidade, do ser e do nada.
Ø  Epistemologia: Trata da natureza e validade do conhecimento.
Ø  Ética: Trata dos valores, da distinção entre o bem e o mal.
Ø  Estética: Trata da arte, da noção de belo e de feio.

Além dessas áreas, atualmente existem muitas outras como Filosofia Política, Filosofia da Religião, Filosofia da Educação, demonstrando que toda área do conhecimento pode ser tratada filosoficamente.

Qual é o método de estudo da filosofia?
Existem muitas metodologias. Didaticamente, pode se estudar as investigações dos filósofos por temas (abordagem temática); ou pode estudá-las tendo em vista a linha do tempo (abordagem histórica). As duas se complementam. Para um bom aproveitamento de leituras, debates e redação de assuntos filosóficos duas habilidades principais são requeridas: Pensamento lógico e interpretação. A História da Filosofia é uma forma de abordagem bastante usada. Aliás, para se ter uma visão panorâmica da filosofia, ela é de grande valia.

Quais as etapas da história da filosofia?
A história da Filosofia geralmente é estudada seguindo as eras da história da civilização ocidental. Leia, a seguir, as épocas, os assuntos e os filósofos de destaque. É apenas uma lista introdutória:

Ø  Filosofia Antiga: Sócrates, Platão, Aristóteles. Temática: Natureza, homem, ser, conhecimento, felicidade. Séc. VI a. C. – Séc. V d. C.
Ø  Filosofia Medieval: Plotino, Agostinho, Tomás de Aquino, Abelardo, Guilherme de Ockam. Temática: Ser, Deus, fé, razão, conhecimento, moral. Séc. VI-XV.
Ø  Filosofia Moderna: Descartes, David Hume, Blaise Pascal, Rousseau, Immanuel Kant. Temática: Razão, homem, conhecimento, direito. Séc. XVI-XIX.
Ø  Filosofia Contemporânea: Hegel, Marx, Nietzsche, Heidegger, Sartre, Wittgenstein, Foulcault. Temática: Ser, linguagem, existência, técnica. Séc. XIX até hoje.

Quem é o filósofo?
Primeiramente, filósofo é todo estudioso que se interessa pela investigação sobre o mundo, sobre o homem e seus valores. É alguém crítico, questionador. Em se tratando de educação formal, na legislação brasileira recebe o título de filósofo quem cursou um bacharelado em Filosofia. Porém, a lista oficial de filósofos que aparece nos manuais de filosofia, considera como tais, pessoas formadas na área ou não que fizeram investigações filosóficas inovadoras e relevantes.

Qual é o trabalho de um filósofo?
No Brasil, um filósofo pode escrever críticas para jornais, revistas e demais mídias. Pode se tornar um professor de Filosofia, cursando uma licenciatura. Pode atuar em universidades em pesquisas e docência. Neste caso, é requerida uma pós-graduação. Atua ainda como consultor de empresas, como terapeuta, em caso de especialização, em Filosofia Clínica.