O Evangelho de Judas propõe ser um relato secreto do que Jesus revelou a Judas, em conversa particular, uma semana antes de sua morte. Assim se inicia o texto: “O relato secreto da revelação de Jesus na conversa com Judas Iscariotes, durante a semana dos três dias antes da Páscoa que ele celebrou.” Em seguida, o texto vai se desenvolvendo com diálogos entre Jesus e os discípulos, em menor quantidade; o acento é maior nos diálogos a sós com Judas.Jesus interpreta uma visão de Jesus, ensina-lhe cosmologia, descreve a criação, os primeiros pais, os anjos e o destino da humanidade. Depois de revelações gerais, o mestre fala da missão especial de Judas, a sua precedência no meio dos discípulos, a narrativa é concluída com o episódio da traição. Traição aprovada por Jesus. A obra soa como uma tentativa de resgate da figura de Judas, a partir da justificação e isenção de sua culpa na traição.Jesus apresenta características dos textos gnósticos e também dos sinóticos. É um profeta misterioso, intérprete de sonhos, que possui uma sabedoria secreta não-compreensível a todos. Os seus títulos são: mestre, profeta, filho de Deus. A eleição de Judas como seu confidente, decorre do fato de o discípulo ter uma fortaleza espiritual superior aos outros discípulos. Ele revela quem é seu mestre e descobre a sua origem.Algumas situações nos levam a perceber certa crítica ao templo, que pode refletir a própria situação da comunidade autora em relação à igreja oficial. Os discípulos estão destinados a superarem o poder do templo. O ensino de Jesus tem dois públicos como alvos: uma geração misteriosa e a geração presente.A doutrina de Jesus tem característica gnóstica, ela extrapola a racionalidade do texto. O mestre ensina cosmologia, revelando a origem dos primeiros pais, dos anjos, da humanidade. Descreve a hierarquia dos eões. Cristo é posto como o grande Seth, o primogênito dentre todas as criaturas. Esta concepção aproxima-se de Paulo, quando este coloca Cristo como o primaz das criaturas.A chave de leitura da compreensão da figura de Jesus decorre da sua íntima relação com Judas. A partir desses colóquios Cristo vai se revelando como mestre, filho de Deus, o primeiro dentre as criaturas. A sua morte fica subentendida no final, aos descrever a cena da traição.A identidade do confidente de Jesus é evidente no texto. Judas é o principal interlocutor do Mestre. Possui uma espécie de primado no meio dos discípulos, encarna em si a figura de Pedro e do discípulo amado dos canônicos.Judas possui uma fortaleza espiritual ímpar no meio do discipulado. O texto diz: “Tu ultrapassarás todos eles.” Ele não é visto como o filho da perdição (Jo 17, 12), mas ao contrário, o discípulo principal. O texto o transforma no filho da bênção. Isto é devido à sua missão diante de Jesus: “Tu me libertarás do homem que me reveste”. A mais importante e conclusiva.O texto se situa no século segundo II, foi escrito pela seita dos cainitas. Tratarei esse autor ou autores de comunidade. Esta provavelmente admirava Judas e fizeram uma releitura da sua traição. A doutrina do desprezo do corpo presente nesses grupos muito contribuiu para a reinterpretação. A comunidade patrocina um resgate da figura de Judas, ação dele é este justificada e o discípulo a passar do primado espiritual.A comunidade relê a trajetória de Judas, coloca a sua rejeição pelos cristãos como o cumprimento de uma profecia. E depois de um tempo de rejeição, ele seria relembrado. O evangelho é esta fonte importante. Ele revela ensinamentos que só Judas teve acesso. A atribuição da autoria a Judas se insere em casos comuns dos evangelhos.O documento nos ajuda a compreende o cristianismo primitivo. Questões como a diversidade de idéias, o primado entre os apóstolo, a supervalorização da figura de Jesus e a fusão entre cristianismo e helenismo. As lacunas do manuscrito deixam muitas passagens obscuras. A visão integral do texto fica comprometida. É um texto pequeno. Mas, de difícil leitura.
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