quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Um olhar sobre as raízes da paz

“... homem...Ele nos parece o animal mais forte porque é o mais astuto: um dos corolários disso é a sua intelectualidade” (Nietzsche). O ser humano está condenado a conviver com sua ambivalência: a capacidade de amar e de gerir guerras. De onde virá o equilíbrio de forças, senão de sua decisão de amar? Porém, o amor precisa de um ambiente favorável para se desenvolver e gerar relações fraternas.É preciso lançar um olhar mais profundo sobre as raízes da paz. Num mundo cansado de guerras e de múltiplas formas de violência, parece que a compreensão de paz reduziu a mera ausência de guerra. Há que se recuperar o sentido do Shalôm (paz) bíblico.A construção da paz do mundo é uma tarefa árdua e lenta. Apesar de todo o progresso tecnológico, o homem continua eticamente atrasado. Há uma disparidade entre essas duas dimensões. Seus instintos de predador ainda continuam s mesmos. Se não se desenvolvem meios de humanização, ele continua entre o irracional e o pensante. A violência está travestida de diversas formas culturais, desde símbolos, passando por instituições até os atos propriamente ditos. Como poderíamos avançar na direção de uma cultura de paz?Não se pode isolar o problema da conjuntura social, política e econômica. E nem podemos nos esquecer que ser pacífico é uma decisão individual, parte de uma metanóia (conversão) a para a paz. Quanto mais se enrijecer as convicções individuais e étnicas, tornando-as absolutas e hegemônicas, mais formas de violências serão geradas. O terrorismo, os fundamentalismos islâmico e cristão e o crime organizado são protestos desesperados que tem salvaguardar uma concepção de homem. No fundo quem não pertence a esse qualificativo deve morrer. O humano é relativizado em nome de certas “verdades”.Mesmo nas sociedades democráticas ainda não há autêntica convivência entre a s diferenças. A tolerância é muito confundida com conformismo, a decisão de começar a paz é sempre adiada. Não há política e nem educação favoráveis para a superação da violência. Alguns optam por uma pacificação como o império americano. Faz-se guerra para garantir a paz, como os romanos diziam Se vis pacem, para bellum (se queres a paz, prepara a guerra). Será que estamos dispostos a investir no caminho encontrado por Gandhi? O da não violência?No sentido bíblico a paz é fruto da justiça. A opção por ela requer uma sociedade onde reina a justiça. Sem elas inter-relações a questão se torna uma utopia estéril. Há um discurso por aí de livretos de auto-ajuda que poetizam uma paz ingênua, não feita para o mundo dos homens. Tenhamos cuidado para que nossas reflexões cristãs não tomem a mesma direção!Francisco de Assis, Gandhi nos lembram decisões imperturbáveis pela paz. Decidir-se por ela é doloroso e um risco a princípio. Significa uma saída corajosa de todo individualismo, de convicções fechadas, mesmo sagradas, que não se dispõem a dialogar com outras verdades. O homem da paz é um homem radical, não se contenta em ser superficialmente humano. Na sua decisão corre o risco de ficar sozinho. Jesus é o protótipo! Espero que cristão não tenham sido entorpecidos pela desesperança na paz.

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