Quando percebemos ele já estava no nosso meio. Quem podia imaginar que aquela criança de Belém era ele?! Seu primeiro choro infantil foi lição de amor tão singular. A humanização de Deus foi surpreendente, gratuita e não exigiu respostas. Belém não é um lugar necessário. O coração do homem é um presépio gratuito do divino. Mas, ele quis armar a sua tenda entre nós. Tornou-se um profeta não para nos ensinar um código de moral, mas para nos convidar a uma experiência acessível a todos: o amor.Porém, tenho de discorrer sobre a natureza desse amor. Ele não é um amor exigente e nem é recíproco. Ele é pura iniciativa, nítido desdobramento em favor do outro. Ele não diz faça o bem para ser salvo. Mas, nele já está implícita a salvação: o bem faz sentido porque vivemos uma relação de pessoas salvas. A História da Salvação plenificada na epifania do Senhor nos mostra uma relação de graça. Entre o homem e Deus há uma caso de aspiração e sedução infindável.O Natal nos faz repensar a nossa relação com Deus. Ele não tinha nenhuma dívida conosco, não havia um contrato exigindo a sua manifestação para que crêssemos. Nem impôs a fé como condição. No entanto, ele veio. Ele que nos criou livremente. Só poderá receber uma resposta gratuita. Ao longo da história nosso zelo excessivo foi instituindo obrigações para o amor. E passamos a dizer que devemos o amor uns aos outros. Isso não cabe na natureza intrínseca do mesmo.Como podemos sentir a relação de graça e de liberdade com o nosso Deus? A fé cristã não parte da adesão a um conjunto de verdades. Começa com um encontro pessoal com Jesus. Ás vezes, mediado pela comunidade ou não. A estrutura central desse ato de fé que nasce dessa apresentação interpessoal é o amor. Não é uma experiência moral em primeira instância. É uma relação estética pautada por um amor espontâneo. A conversão de muitos santos se deram da maneira mais impensável. É um enamoramento sem formas prévias, sem exigências de reciprocidade. Compreende-se a medida do amor é com o próprio amar.O Evangelho provoca uma virada de expectativa diante da lei. Enquanto, se espera do devoto um cumprimento perfeito dos mandamentos. A gratuidade evangélica vai além, justamente naquilo que não se exige. Não precisamos mostrar nossas ações para atrair recompensas, o intuito do bem não é receber outro em troca. Essa pespectiva contradiz os ditos “amor com amor se paga”, “o bem se paga com bem”. A essência evangélica nos convida a dar mais um passo, convida-nos a uma virada de expectativa. O amor não nos faz devedores. Se concordamos com atitude farisaica (da recompensa), no lugar em que não se fizer mais o bem, não teremos motivação para realizá-lo.O efeito da graça na vida humana só pode ser uma postura de gratuidade. Caso contrário estaremos numa relação ambígua. A encarnação só pode ser entendida num contexto de graça e a relação com ela fará sentido se for por nada. E as nossas relações interpessoais? Qual será o parâmetro? O limite é o amor. Ele é desmedido. “Ama e faze o que quiseres”, dizia Agostinho. Não tenhamos medo o amor dá o contorno próprio ás coisas autenticamente humanas.Se não há uma relação de necessidade e de obediência. Então, tudo é permitido, dirão alguns. Quando desviamos e projetamos a razão do amor na premiação que Deus nos conferirá, desfiguramos o amor divino. Se tiramos a premissa esquecemos que somos seres amorosos. A graça age a na comunhão entre o homem e Deus. A salvação é a maneira objetiva como a graça nos toca – não depende de nosso mérito. Agora a santidade é a relação subjetiva que se estabelece com a graça. É acolhida livre e pessoal da salvação – é uma construção pessoal. Essas relações quando são confundidas, não conseguimos compreender a visita gratuita que nosso Deus nos faz a cada Natal. Amar é próprio de quem cultiva a hospitalidade. Fica o convite para acolhermos o nosso visitante neste Natal, em outras palavras: sejamos gratuitos – amemos as pessoas pelo que elas são e não pelo que elas podem nos dar. Assim como o nosso Deus fez conosco na Encarnação.
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