quarta-feira, 5 de setembro de 2007

A Ética do Cuidado Ambiental


A preocupação mundial atualmente se volta para o aquecimento global. O homem fez da tecnologia uma arma disparada contra si mesmo. A ecologia como uma dimensão moral é uma novidade de nosso tempo se olharmos a história do ocidente. A concepção judaico-cristã de homem faz um corte entre seres humanos e natureza. O homem não é visto como natureza, mas como um sujeito supra-natural posto no cosmo. E este mundo se tornou o seu utensílio de satisfação de sua vontade de poder. A gênese do capitalismo sacralizou essa antropologia (visão de homem) e acentuou a superioridade da razão, dando condições para que a natureza fosse explorada sem controle.
Até o início da modernidade questões como meio ambiente e uso responsáveis dos recursos naturais não eram cogitados como aspectos morais. A técnica e o capital não permitiam pensar na finitude dos bens naturais. Somente a partir da década de 70, aparecem os primeiros índices de uma consciência ecológica. Representa esta revolução ecológica o surgimento da permacultura. O termo vem da expressão “agricultura permanente” e consiste num método de organização humana ambientalmente sustentável com viabilidade financeira e equilíbrio social. O sistema foi criado pelos ecologistas australianos Bill Mollison (1928) e David Holmgren (1955) na década de 70. A sustentabilidade ecológica e humana é a base das comunidades permaculturais. Reúnem práticas agrícolas, arquitetura bio-sustentável, saneamento básico e toda estruturação da vida em harmonia com o meio.
Como reflexão, a relação como o meio ambiente ganha teoria como as propostas éticas do filosófo alemão Hans Jonas (1903-1993) e do australiano Peter Singer (1946). O primeiro centrou sua preocupação nos problemas gerados pela tecnologia, formulou o princípio de responsabilidade, segundo o qual deve-se permitir somente atos cujos efeitos possibilitem a permanência da vida humana genuína na terra. É vital um equilíbrio entre progresso técnico e qualidade de vida. O segundo levantou bandeira em favor dos animais, reconhecendo o direito de proteção, preservação e tirando-os da lista de consumo humano. Não se pode discriminar uma espécie por não ser humana. Todas as espécies que são capazes de sofrer têm os mesmos direitos que o homem. Para o pensador é imoral criar animais confinados e geneticamente alterados para consumo. A solução é ser vegetariano.
Ao lado desses sistemas de vida e pensamento estão as ONGs. Crescem, em grande proporção, as organizações que defendem uma relação saudável com o planeta. Um destaque entre elas é Greenpeace Foundation. Fundada em 1971 no Canadá. Presente em quarenta e um países, é sustentada por 2,8 milhões de membros particulares. Seu campo de ação é o ambiente, em questões de alterações climáticas, preservação dos oceanos e florestas, paz e desarmamento, engenharia genética, desenvolvimento nuclear, comércio justo ou sustentável.
Os debates e as ações são velhos. Mas, somente a pressão do aquecimento global fez o assunto se tornar novo e presente na boca de todo mundo. Para reverter a progressiva destruição do planeta, não bastam só teorias. Há que se desenvolver uma educação ecológica que saia dos livros e se torne prática cotidiana. São atitudes de ética ecológica como se recolhe o lixo, cuida da água, estrutura o quintal de casa. As instituições podem promover essas ações. Porém, por trás delas, deve estar uma mentalidade nova. A base da conversão é ecológica é aceitar a condição natural do homem. Ele é um membro frágil e dependente do ecossistema. Não está autorizado a sobrepor as outras criaturas. Não é dono, é hóspede convidado a cuidar. É precedido, gerado, circundado e sustentado pela natureza. Enfim, é um convite ao retorno ao homem natural.

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