quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Ensaio sobre Teologia Biogenética

Deus, o princípio da vida
Atualmente ao tratarmos da origem da vida, sempre ocorre a tentação de contrapor fé e ciência, quase sempre não reconhecendo a condição histórica do Gênesis. Este é uma interpretação da origem da vida feita por um povo antigo que expressou segundo sua cosmovisão. Ao admitirmos a contribuição da ciência não desmerecendo a Bíblia, estamos utilizando o mesmo processo, lendo a história , a origem de tudo, a partir da visão de mundo. A Bíblia expressa uma verdade fundamental: Deus é o princípio da vida, ele é a origem dela. Porém, o como isso se deu só pode ser entendido a partir do conhecimento do homem, segundo a sua época. Deus sempre será o princípio da vida.A criação no Gênesis (Gn 1 e 2)No princípio havia o caos aquático e tenebroso, mas o alento vital de Deus (rûah) se movia sobre a terra vazia e informe. Deus é princípio criador e ordenador da vida. A palavra anuncia a vida, esta palavra é concreta, dela se origina a luz que desperta toda a existência do caos , desordem necessitada do sentido que só Deus pode dar. Um significado que é a própria existência.Toda a criação é dotada de bondade, o surgimento de tudo é motivo de maravilhamento. A terra produz a erva, lembrando poder vital da terra-mãe. Muitas coisas são criadas pela palavra, outras são feitas sem menção à palavra. Quanto ao homem, sua criação se deu pelo contato direto de Deus. A atitude de modelar o corpo humano expressa o carinho e cuidado com a perfeição que o divino teve com o homem.Fez à imagem e semelhança, porque as relações se dão a partir de algo comum. O homem é o único animal a ter consciência de Deus, o único capaz de refletir sobre a origem da própria vida. A distinção de sexo não se figura como mera necessidade reprodutiva, são diferentes, igualmente dignos, modos de participar da vida. Vida que é tão diversa, mas complementar, capaz de coexistir em harmonia.Deus é o princípio da vida intuído por todas religiões e cultura. A diferença no como, eles experimentam de forma diferente e própria. O crescer e multiplicar bíblico revela a responsabilidade de cuidado com a vida que cabe ao homem. Ele é zelador da vida, nunca dono. Só Deus o é, afirmação bem clara em toda a Bíblia .O Homem é concriador, o mundo criado não magnitude fechada e concluída, cabe ao homem dirigir a história.[1]O relato bíblico tem seu valor inegável. Porém, atualmente devemos acolher as novas contribuições da ciência para contemplar a origem desta vida, cada vez mais carente de valores. O como é histórico, interpretações diversas são oferecidas , agora o valor, a sacralidade e o princípio estão em Deus, podem ser também pensados pela razão, mas a revelação lhes confere valor absoluto.A contribuição científica para a teologia3.1. A origem da vidaÉ importante esclarecer que não há oposição entre fé e ciência. As duas são atividades humanas que só podem estar a serviço do próprio. Quando elas se atropelam certamente há um mal entendido, uma invadiu o campo da outra. A tentativa refletir teologicamente sobre a origem da vida deve ler em conta a contribuição da biologia.Segundo os cientistas Oparin e Haldane reações químicas possibilitaram a origem da primeira molécula orgânica. Há 3,5 bilhões de anos, as condições na Terra eram: erupções vulcânicas liberando gases e partículas para atmosfera. Pela força gravitacional as partículas ficaram retidas a formaram a atmosfera primitiva. Esta atmosfera era constituída por: amônia, metano, hidrogênio e vapor d’água.O resfriamento permitiu acúmulo de água nas depressões formando os mares primitivos (quentes e rasos). As descargas elétricas e as radiações internas teriam fornecido energia para que algumas moléculas presentes na atmosfera se unissem, originando moléculas maiores e complexas; as primeiras orgânicas. Essas moléculas arrastadas para os mares pelas chuvas, se agregaram envoltas por uma molécula de água se isolando do externo. Mas, trocando substâncias com ele, ocorrendo assim reações químicas.As moléculas foram se tornando complexas. Apareceram a membrana de lipídios e proteínas e o ácido nucléico, possibilitando a reprodução[2]. A partira daí , num espaço de milhares de anos, estimuladas pelas condições ambientais e direcionadas por reações e mutações internas, as moléculas foram evoluindo, atingindo formas de vidas variadas e complexas: aves, répteis, peixes e mamíferos.3.2. O surgimento homemHá 12 milhões de anos ocorreu na África uma série de modificações na superfície terrestre, facilitando a formação do homem. As condições climáticas, migração e bipedia ( andar sobre dois pés) contribuíram para que os antropóides se evoluíssem na direção do homo sapiens[3]. De 3,8 milhões a 1 milhão surge o homem e se expande pelo mundo a cerca de 60 a 40 mil anos[4]. O homem desenvolve o cérebro, a consciência, torna-se bípede e começa a viver em sociedade, desenvolvendo os seus próprios meios de sobrevivência.A evolução e a ação de DeusSem dúvida o Big Bang é o Grande Grito de Deus criador de tudo. A matéria primitiva impregnada do sopro vital divino começa uma marcha de bilhões ganhando formas até surgir o planeta Terra e nele a vida. Esta matéria que não vive sem o alento de Deus nunca esteve fora de sua ação. O maior encantamento desta evolução é o surgimento homem, um ser capaz de se relacionar com Deus, descobrindo o valor da vida e dando todo um direcionamento dela para Deus.A evolução não exclui Deus e nem a fé. Nas condições climáticas, nas reações químicas e passagem do antropóide ao homem não se pode pensar esses processos sem Deus dotado a natureza de tais potencialidades. Só nos restam motivos para louvar a Deus existirmos de um modo tão admirável, de uma natureza desprovida de razão, nasce a vida e a razão, isto porque é Deus quem pôs essa matéria em evolução.

[1] RUIZ DE LA PEÑA, JUAN, Teologia da Criação, Loyola, pág.35.[2] LOPES SÔNIA, Bio, Saraiva, 1999, pág.17[3] MURGEL BRANCO, Evolução das Espécies, Moderna, 1994, pág.60.[4] LOPES SÔNIA, Bio, Saraiva, 1999, pág. 533.







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