Referendo – Por que os brasileiros disseram “não”? O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) 63, 88 % dos eleitores disseram “não’ à proibição do comércio de armas e munição, e 36, 11 % escolheram o “sim”. O resultado representou um retrocesso no desarmamento do país, embora não impeça a continuidade do mesmo. Existem outras restrições aprovadas pelo Congresso que garantem o processo. O “não” prevaleceu apesar da insistente conscientização dos movimentos que se propõem como força de paz. Quais seriam as razões?Muitos alegaram que a pergunta do referendo não foi clara. E ainda, muitos dos participantes não conheciam as outras leis e consideram a questão isoladamente. Os motivos bem eloqüentes se concentram na situação sócio-econômica do país que não oferece segurança. O acesso à problemática que girava em torno do desarmamento chegou ao eleitor via propaganda eleitoral, que mais confunde do que esclarece. A intenção da propaganda é influenciar a opinião dos cidadãos, isto fez com que a questão fosse levada para o nível pessoal, desconsiderando os efeitos sociais do referendo.Os defensores do “não” alegaram que a solução não seria proibir, isto seria uma privação de direitos do cidadão. Mas, a Constituição brasileira não prevê direito universal de porte de armas para os cidadãos. Portanto, a reivindicação é legalmente insustentável. Deslocaram a solução para a educação. Porém, esta é uma resposta a longo prazo e a violência no Brasil não pode continuar nesse nível, a situação é gritante. O procedimento só seria viável num país altamente democrático, com altos índices de educação e maior distribuição de renda. Para um processo de paz democrático e educativo, o desarmamento deveria acontecer a partir de dois movimentos: um, a curto e outro, a longo prazo. Imediatamente, desarmar uma sociedade que não sabe conviver com as armas e gradualmente, investir na educação e reformas econômicas e sociais que extirpem a violência pelas raízes.Ainda é válido pensar que a mentalidade de violência já se instalou de certa forma no brasileiro que a resposta à violência tem sido atos violentos. O Estado perdeu o controle sobre a realidade, não oferece segurança e o cidadão tem de se defender a todo custo. Isto confirma que o referendo foi mal preparado, encarado como um elemento desligado de uma lei maior que tenta contemplar uma realidade mais ampla, embora, não vincule a ela as reformas econômicas e sociais necessárias. O Estatuto do Desarmamento foi seccionado da pergunta do referendo.Por meio de algumas razões estamos tentando entender as razões do “não” baseado em critérios econômicos e sociais. Já do ponto de vista estritamente religioso cristão, que dizer da grande maioria cristã que optou pelo não? A situação social influenciou, a mídia converteu uma questão do bem-comum em auto-defesa. A percepção mais grave é que na prática cristã do brasileiro, seja católico ou evangélico, há uma separação entre fé e ética. A primeira tem sido orientada pela igreja, mas a ética transformou-se numa escolha muito pessoal, que nega a natureza da ética. Esta, mesmo no que toca ao pessoal, ela é toda orientada para a sociedade e para o bem-comum. Nenhuma definição ética é egocêntrica.O rosto do cristão ficou bastante configurado neste resultado do referendo. A fé tem se tornado uma instância muito procurada, mas que só age na dimensão psicológico-existencial, não chega a atingir o agir ético que se faz necessário no concreto das relações. A ocasião é propícia para a Igreja conhecer melhor seus fiéis e seu modo de lhes falar.A propósito de uma avaliação geral, o fato aqui discutido não deve invalidar nossos esforços em favor da cultura da paz. A esperança ainda continua. O referendo representou um grande passo para a história da nação brasileira. Mesmo que o motivo seja a dor, a humanidade começa a construir timidamente a civilização do amor tão sonhada. A maioria disse “não” à vida, mas ela continua se afirmando incansavelmente e não há de ser ignorada sempre.
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